Páginas de Literatura Corporal

31.10.02

Há muito , muito tempo atrás ( nessa mesma bosta de galáxia ) , eu fiz uma opção : decidi que nunca na vida gostaria de ter PAZ . Eu entendia que a dita cuja era apenas para os FRACOS , que não suportam os esgotos e paraísos da vida , e preferem ficar na mesmice , na morte do espírito selvagem , “descanse em paz” , e eu não queria descanso . Desejava Noite , sexo , putas , drogas , grana , pobreza , roubo , infâmia , poesia venial , e essas coisas dos meus anos e minha história . Eu era um grande espermatozóide com rabo devastador , cheio de pedras vagabundas e preciosas . Nada de paz pra mim , boneca , mas senta aí , de preferência com as pernas bem abertas , pois gosto de VER .
O fato é que passou um anjo viado e disse amém . Caralho , pelo menos um diazinho de humanidade boçal , seu anjo !
- Nada disso , fofo ! Agora você é meu BOFE e cada vez que você sair da linha , por milímetro que seja , eu vou te fuder , bonitão ! Vou até aumentar o tamanho do seu espírito , teus culhões e teus braços , só pra tentação ser maior , a de fazer uma cagada . Daí , venho e te fodo !
- Mas anjinho , anjinho meu , não deveria ser o contrário , tipo assim , eu te enrabar ?
- As coisas são mais complicadas do que você estudou , querido !
E cantou “CABARET” me dando chutes na bunda , puxei a faca , enfiei no peito dele . Virou fumaça . O que eu posso ver , eu posso detonar , com certeza .
Nada disso .
No dia seguinte , quem acordou com pneumonia fui eu , e na febre eu o via , lambendo a sola dos meus pés , enquanto acariciava minhas bolas .
E desde então , colou na minha sombra . E cada crime que cometi , de um assassinato até um peido no elevador , tudo mereceu o devido (??) castigo , nenhum dia de paz para o titio aqui . E quando eu tirava meu DEZ em ética e PADRÃO SOCIAL , ele me assoprava nos tímpanos : NADA MAIS QUE SUA OBRIGAÇÃO .
Tal impotência e não reconhecimento diante de algo chamado BEM , a armadilha era a seguinte : eu estava condenado ao mal e à condenação .
Mas até agora pouco , estava no quarto , olhando a ESPADA , seu brilho lindo , sentindo nas coxas o seu corte . E tive um início de idéia , um lampejo de plano . Um filme ainda nublado na tela de prata da lâmina . Mas já é algo . Se eu nunca mais tive um dia de paz , ele , o sacana , teve . E todos os seus REPRESENTATES TERRENOS .
Tá na hora o Pau .
Até o último cara ficar de pé . E esse posso ser eu , o saco está bem cheio de munição acumulada nesses anos todos .
Um sorriso no rosto . Um cigarro na boca .
Rock and Roll . AGORA !!!
Beijos pra quem tá junto .
Paulo.


30.10.02

ONTEM FUI ABRIR o evento - qualquer merda hoje em dia , os caras chamam de "evento" , estou tratando uma parasitose de uma amiga , e isso é um EVENTO - , a exposição do Marco . Reza a lenda da curadora , que ligaram durante toda a manhã , vozes jovens , vozes decréptas , pra saber se o DOUTOR iria . Lenda louca : quando cheguei , um monte de vaginas com vários dos meus artigos pra autografar , eu disse algo como "vinho , quero vinho !!!" ou "nunca vi autografar jornal " , ou "ei , não sou quem vocês pensam !" , algo dessa ordem .
depois falei algo , uns 15 munutos , acho que improvisei um poema , olhando pro Marco e pra Marina , só pros dois , que interessantemente estavam mudos , zumbizados , entre o êxtase e o saco cheio . Então chegaram , alguma kombi , ong , algo dessa ordem , dezenas de pacientes que já sofreram derrame como Marco . Mas esses eram feios , a volta dos derramados mortos , malditas u.t.i.s , usinas de feiúras .
Chegou Dé e me salvou de mim mesmo e de uma possibilidade de arrumar briga .
Mistura de dança do ventre com um ator contando piadas à partir de trocadilhos de nomes de carros .
e os quadros de Marco brilhavam quase esquecidos , pois eram e são belos .
- Dé vamos dar no pé ?
- Vamos !
- Comer ! Beber !
- Isso !
e fomos : bife , carne , bebida boa pra mim .
Dé linda , chamuscando meus joelhos com micro capetas eróticos
e circences .
-Dé , vamos pra onde ? é madrugada ...
- vamos cantar na minha casa .
e fomos cantar na casa dela
olhando imagens estranhas e sorridentes
refletidas em nossos dentes .
Beijos , Dé , beijos Marco , Marina
Beijos Todos .
A vida imita a arte , a morte imita Marte .
Paulo.

29.10.02

como viemos parar aqui ?
quem roubou os francos que eu guardava dentro de Faust ?
Mephistópheles ?
quem roubou o livro inteiro ?
e o transfomou em Macunaíma ,
quem pintou minha pele dessa cor ?
por que esse bafo na lente dos meus óculos charmosos "?
quem roubou o charme .
corpo , mulher , corpo de areia em praia
que acordamos ,
vox
vox
você não parecia perdida em patropi ,
aveludada ou nua , nunca se parece perdida ,
me aprumava e você já estava com um picolé na boca ,
arisca vampira que não muda em latitude
capricórnio
câncer
trópicos ,
sou absinto
sou ópio
e aqui serei maconha pernanbucana
mas você vox vox
sempre já a coisa em si ,
te mantenho próxima como se tivesse ainda a esperança
de poder fuma-la , injeta-la , massacra-la ,
por fim , ( entenda pois , porque nossa cama anda por todo quarto ,se debate em paredes , ralha com outros móveis ) ,
mas sei que é dose única ,
teu assassinato ,
apesar de sua via vida vox vox
ser de todos e todas ,
você é o piano
e eu sou o pianista
no céu fuliginoso de todas pontes aréas
pontes dentárias
dos nossos céus
da boca .

Paulo , um para-homicida .

28.10.02


Falando um pouco de política : hoje as lojas de bebidas estavam com seus armários lacrados . Pronto , falei o que entendo de política . Agora vamos brincar um pouco de jogo da memória . Gosto de jogar fumando , peraí , deixa eu arrumar um cigarro decente . Pronto . Quando fui morar sozinho , 18 anos na cara , além de muitas espinhas , um apartamento com quarto e sala , num bairro nobre , em seu limite com um bairro esgoto , onde crianças chutavam o negro em suas cobertas , chutavam sem saber , ou sabendo , com mais gosto , o próprio pai . Que chutassem , enquanto eu tentava arrumar sexo úmido . Fatimão era o nome dela . Um só telefonema bastava , sempre e para todos . Era grande como um armário e tentava muitas possibilidades com seus cabelos , em uma tentativa de melhorar a natureza . Um quarto e sala com muitos abajours , velas e pouca luz elétrica : charme para um jovem escritor e profilaxia para um adolescente tarado com estômago fraco . O problema com Fatimão era que sempre queria ficar mais um pouco , depois do que realmente interessava , mesmo da vez quando quebramos minha cama de madeira esburacada , e para mim , com meus 60 quilos da época , atribuía justamente a culpa pelo desastre a ela . Mesmo quando ela preencheu um gordo cheque e o colocou na palma segura da minha mão , eu pedi que ela fosse embora , obviamente , como um cavalheiro . Não concertei a cama , joguei fora , passei a dormir no colchão sobre o chão e estava com um salário mínimo no bolso . Com isso , atravessei o limite dos bairros , invadi o nobre Cambuí , comprei uma roupa bacana , cueca bacana , meia cheirosa ,e daquele jeito , não precisei de Fatimão por um bom tempo . E esse foi o esquema por algum tempo , a grana acabava , eu telefonava , ela vinha , depois com uma cara chorosa eu lhe mostrava minha geladeira vazia , minhas unhas compridas e sujas e o copinho onde ia juntando restos de sabonete , em uma mistura multi-colorida e sensitivamente indefinível . Era feia como um bujão de gás , mas tinha um excelente coração , isso nunca vou poder negar , e ainda hoje , quando vejo meu saldo piscando - piscando “PERIGO” , ainda tenho saudades benignas dela . Sinceramente , espero que esteja feliz e com um bonito corte de cabelo .
Lá , naquele lugar , todas as manhãs , logo ao despertar , vinha a sensação , que mais tarde alguns caras diagnosticaram como uma síndrome do pânico . Que fosse esse o nome , mas o fato era que eu abria a janela do oitavo andar e me punha a vomitar bile , em jatos fortes , que caiam como chuva sobre os carros estacionados . Com o tempo , fui pegando gosto pela coisa , mas a coisa se curou quando as golfadas se misturaram com acessos de riso . A doença não quer que o cara ria . Hoje as lojas de bebidas estavam lacradas . Dá no mesmo , se você pensar direito , Sweet Jane .
Ninguém gostava de mim no prédio e eu não gostava de ninguém . Tinha as vizinhas , estudantes também , me davam limão , eu preparava a caipirinha e levava pra elas . Riam muito das minhas piadas , das minhas imitações e me tratavam como um primo de primeiro grau , o que em outras palavras , significa impedimento sexual . Mas ok . Era bom ficar perto delas , só isso , cinco mulheres perfeitas que gostavam de rir , eram saudáveis , mas sem colar um adesivo “BOA FORMA” na testa , nem tomarem suco de beterraba .
Eu também era o único amigo delas no prédio , os velhotes queriam fode-las em olhares buldogues dentro do elevador lento , e as velhas queriam morrer , por qualquer motivo , e as cinco eram apenas mais um , assunto pra se discutir no banco da praça entre raivosas agulhas de tricô e demência senil . Às vezes , otário confesso , eu levava o cheque fatimão para as garotas , e dessa forma , tínhamos pizzas , cervejas , música , danças com pouca roupa , e no fim da noite , um bitoquinha de cada uma , o mancebo aqui ganhava . Walk On the Wild Side , Wild Child .
Enfim , a política imita a vida , e assim , era tudo uma questão de manter o capital girando , proporcionando ganhos internos , sendo transparente e sincero , gerando empregos e alegria para o povo .
Até que eu , ora veja , entendo um pouco da coisa toda .
Beijos .
Paulo.

26.10.02



Tenho encontros com uma quase desconhecida para brincar sobre a existência de Deus . Brincar é a palavra , longe da filosofia , milhas da teologia , muito mais perto da ficção e da música . Já levamos o assunto até uma mesa de bilhar , que nos pareceu ser uma metáfora exata da questão . Ainda mais quando ela se abaixava , o copo de cerveja sobre o anteparo , e a saia subia pelas coxas hidratadas . E morria de rir quando não metia nenhuma bola , mas deixava o jogo montado para mim . Vimos Deus também em um filme , de cine-clube pulguento , onde intelectuais iam pagar promessa e caçar no banheiro masculino . Na verdade , o papo sobre o divino é bastante cansativo e nem sei se é por isso ainda que continuamos nos encontrando , mas toda história precisa de um título , mesmo que esse não caiba feito sapatinho de Cinderela . Por exemplo , o que há de metafísica no fato dela me filmar com sua câmera digital , enfiada em sua camiseta larga demais , furada demais , não se movimentar , apenas ficar de boca aberta , zumbizando minha imagem , fumando e sentindo o vento na careca , deixando as cinzas caírem sobre o sofá largo demais , furado demais . Nos encontramos uma vez por semana , cada vez em um lugar da cidade , já previamente decidido no encontro anterior . Na véspera , sempre tenho uma crise de diarréia , o que sempre me deixa calmo , como um carro velho e morto que é lavado com carinho pela chuva , por isso , nesses registros digitais eu sempre apareço como que sábio , como que lento , meus pensamentos completamente azuis , como essa página . Ela não me deixa filma-la . Se acha feia . Não é . Parece um menino grego de cabelos lisos desfiados à gilete . Me deu um bom soco no queixo quando descobriu que a filmei dormindo , ao som de New Order . Ela bate bem . Quando sentiu o impacto , imediatamente me abraçou , seus olhos ejetaram lágrimas e acabamos no telhado , com ela segurando um inútil saco de gelo sob minha mandíbula . Para satisfaze-la , em feitio de oração , eu dizia que estava melhorando muito , que o gelo estava ótimo . E isso era Deus . Ela também gosta de me filmar dormindo , bebendo e contando piadas sujas , me insinuando com botão & zíper & algodão . E quando nos despedimos , contamos 1-2-3-e “fique com Deus.” , a vizinha varrendo a calçada acha isso maravilhoso em seu sorriso simpático de poucos dentes e vestido pornograficamente florido .
Nossos lábios nunca se relaram . Queremos a insatisfação e a ansiedade que o Paraíso oferece .
Ela vai na exposição dos quadros do Marco . Mas disse que não vai chegar perto de mim , que na verdade vai ficar escondida , possivelmente disfarçada . Eu acho isso perigoso . Fura a nossa agenda . Fico tenso .
Mas ela sabe se virar maravilhosamente bem . É esperta .
Amém .
Beijos .
Paulo.

23.10.02

Vou abrir a exposição de um cara chamado Marco Pegolli , os curadores me chamaram para o coquetel na terça que vem . Eu não conhecia absolutamente nada do sujeito e pedi pra ir visitar o estúdio , bater um papo com o cara , saber qualé . Liguei , a namorada atendeu , voz gostosa , melosa , sem ser rapínica disfarçada , imaginei blusinha colada , shortinho amarelo , lambuzado das tintas do Marco . Marquei pra hora do almoço , hoje uma estrevista , pra poder escrever uma matéria sobre o trabalho dele para o jornal e me preparar para a noite daqui 1 semana . Pensei em levar um dos meus quadros , mas achei puta prepotência , tive certeza que era puta prepotência , em se tratando de mim . Só levei um vinho e camisinhas , na fantasia de que o cara não estivesse em casa ( não ouvi a voz do artista no telefone , ao longe e tenho um ouvido de tuberculoso pra sacanagem ) , ou de que ele fosse um ARTISTA MODERNO ( um sacana putão , tipo que conheço bem na frente do espelho , nos dias que resolvo fazer a barba ) e encarasse uma brincadeira francesa .
Lugar bacana , atrás do muro branco , através do portão , não dava pra ver porra alguma , era só árvores centenárias , suas raízes gigantescas e um caminho sutil de terra batida , que se aprofundava no escuro . A menina veio atender . Oi meloso bacana . Moleton , camiseta branca , sem sutiã , tênis bamba-like . Tudo de bom . Eu com o vinho debaixo do suvaco suado . “Oi ...o Marco taí ?” . “Claro , você não queria conversar com ele ? Vem , entra” ( imediatamente as camisinhas secaram dentro do bolso , viraram condons múmia , vergonha , humilhação , adolescente , zé mané , você não está mais nos seus melhores anos , a loucura já passou , o trem virou metrô e te empurraram pra fora , idiota , fica na sua , vê o cara , entrevista o cara , e peça perdão pra Nossa Sra. Aparecida ) . Entrei , caminho de terra vermelha . E ela foi explicando , embaixo era a casa , em cima era o estúdio. “E aqui , Paulo , é a famosa escada.”. Grande merda . Uma escada que ligava em um lance , a casa com o estúdio . Artistas malucos e de merda . Eu precisava da merda daquele vinho . “Você tem saca rolhas lá em cima ? Ou uma espada ?” Riu . Que Maldade de Risada ! Ai . “Vai subindo , vou pegar os copos (??) , o Marco tá te esperando.” .Subi como se fosse pra receber o Oscar , o Grammy , o Politzer , o Nobel , afinal , eu estava na FAMOSA ESCADA . Toquei um piano porrada nos dedos sobre o vidro do estúdio . “Entra , Paulo !” . O Marco tinha uma voz estranha . estranha pra caralho . Me senti numa armadilha , como se houvesse algo maior que eu ( sem dúvida ) rolando em tudo aquilo . Eu ia sair correndo , pular portão , raízes , abrir a garrafa com uma pancada na sarjeta e nevermind . Mas , ele repetiu o convite . Que troncho de cara fudidão eu era ? Vai em frente , Paulão . Fui , capeta . Eram dois ambientes , o primeiro lotado de quadros , o segundo guardava a voz estranha . Parei nos quadros . Uma espécie de cofre levitando no céu . Um pedaço de queijo esmagado em um buraco de rato . Um cigarro amassado na palma perfeita , renascentista , de uma mão . Parece bosta , mas não , a escolha das cores , os tons , os relevos . Arte pura . Na cara . “cê taí , Paulo ?” . Tô , Marco . Morrendo diante de quadros sublimes . “Cadê a Marina ?” . “Eu trouxe um vinho , ela foi buscar os cálices” “Ah...os copossss” . Era isso , ele prolongava o final das palavras e parecia terminar em algo salivento . Vamos ao segundo ambiente , Paulão .
E daí , cercado por uma caixote de vidro imenso , esse quarto , com todas cortinas abertas , lá estava Marco . Sentado em uma poltrona confortável , cercado por almofadões . Segurando com a mão torta , retorcida , uma bengala . Aliás , todo o lado direito do seu corpo era torto & retorcido , uma gota da baba na boca . “E aí , Paulo ? Gostou dos quadros ? Eles que vão pra exposiçãooooo” . “Gostei , pra caralho , Marco” . E demorei pra tomar coragem e sentar , foi a mão de Marina , quente , que chegou no meu ombro , fazendo uma leve pressão pra baixo . Estalei os joelhos ocos e sentei no almofadão com Shiva desenhado . Silêncio , a não ser pelo barulho da rolha em Marina ( “rolha em Marina”??...ai , Nossa Senhora ! Rogai por nós tarados pecadores , o cara é um paralítico fudido !!) . Vinho quase fervendo nos copos de requeijão . Matei o primeiro copo de golada , fiquei ainda com mais sede e estendi o braço pra me servir de mais . Então ele começou : - Foi um derrame , 1999 , eu era promotor de eventos pra Coca – Cola , um dia , trabalhando , senti uma fisgada na cabeça e apaguei . Apagado por 3 meses . Fisioterapia , terapia ocupacional , fono . dispensei a psicóloga , fora minha mãe , são todas uma vacas incompetentes . Dispensei também a cadeira de rodas . No início eu me esfregava pelo chão , como um berne envenenado . Eu tentava falar , mas a voz , ou o único som que eu conseguia produzir , saia pelo cú . A Marina era minha terapeuta ocupacional . Foi ela que me fez andar , no dia que eu vi o bico do peito dela , um ...favor...pro doente , foi assim que ela me disse , pra sacanear com minha auto piedade . Andei . Foi com ela que eu fiz a festa , no dia em que subi essa escada . É dela a mão no quadro . E eu sou o cigarro . Ela não se queimou comigo . Ela que fez meu pau subir , torto , mas subir . Ela que me ajudou a assinar o primeiro quadro da minha vida , enquanto eu chorava e tinha náuseas de felicidade . E não parei mais . Se sou um cigarro , que a vida me trague até o filtro . É brasa , mora ?
(RISOS DOS DOIS . CÓLICA EM MIM ) . Ele devia ter uns dez anos a mais que eu , cabelos compridos , negros , óculos escuros , o tempo todo um sorriso torto , que não parecia defeito , mais um esgar irônico e bem humorado constante . Eu estava apaixonado pelos dois . Existem armadilhas do Bem . Ou do Além do Bem .E logo o papo estava animado , fumamos , rimos , ele desenhou minha cara com giz vermelho e azul em uma folha sulfite . Fiquei incrivelmente bonito e real , esquisito isso . Por fim :
- Porra , Marco , você é vida pura , Marina teu cara é demais . Quantos anos você tem , cara ?
- 42 . sou de janeiro .
- Eu também . 22 de janeiro . 1970 .
- Sério ? – Marina arregalando os olhos de fruta doce .
E caíram na gargalhada . Acendi mais um pra esperar passar . Tudo era natural , inclusive o Tempo certo pras coisas .
Ela :
- É que...ai ,ai...o Marco também é de 22 de janeiro . Olha eu aqui com esses dois aquarianos malucos ! Tá explicado !
E caímos na gargalhada .
Beijos .
Paulo.
Icq: 173033938 (UIN)


Vou abrir a exposição de um cara chamado Marco Pegolli , os curadores me chamaram para o coquetel na terça que vem . Eu não conhecia absolutamente nada do sujeito e pedi pra ir visitar o estúdio , bater um papo com o cara , saber qualé . Liguei , a namorada atendeu , voz gostosa , melosa , sem ser rapínica disfarçada , imaginei blusinha colada , shortinho amarelo , lambuzado das tintas do Marco . Marquei pra hora do almoço , hoje uma estrevista , pra poder escrever uma matéria sobre o trabalho dele para o jornal e me preparar para a noite daqui 1 semana . Pensei em levar um dos meus quadros , mas achei puta prepotência , tive certeza que era puta prepotência , em se tratando de mim . Só levei um vinho e camisinhas , na fantasia de que o cara não estivesse em casa ( não ouvi a voz do artista no telefone , ao longe e tenho um ouvido de tuberculoso pra sacanagem ) , ou de que ele fosse um ARTISTA MODERNO ( um sacana putão , tipo que conheço bem na frente do espelho , nos dias que resolvo fazer a barba ) e encarasse uma brincadeira francesa .
Lugar bacana , atrás do muro branco , através do portão , não dava pra ver porra alguma , era só árvores centenárias , suas raízes gigantescas e um caminho sutil de terra batida , que se aprofundava no escuro . A menina veio atender . Oi meloso bacana . Moleton , camiseta branca , sem sutiã , tênis bamba-like . Tudo de bom . Eu com o vinho debaixo do suvaco suado . “Oi ...o Marco taí ?” . “Claro , você não queria conversar com ele ? Vem , entra” ( imediatamente as camisinhas secaram dentro do bolso , viraram condons múmia , vergonha , humilhação , adolescente , zé mané , você não está mais nos seus melhores anos , a loucura já passou , o trem virou metrô e te empurraram pra fora , idiota , fica na sua , vê o cara , entrevista o cara , e peça perdão pra Nossa Sra. Aparecida ) . Entrei , caminho de terra vermelha . E ela foi explicando , embaixo era a casa , em cima era o estúdio. “E aqui , Paulo , é a famosa escada.”. Grande merda . Uma escada que ligava em um lance , a casa com o estúdio . Artistas malucos e de merda . Eu precisava da merda daquele vinho . “Você tem saca rolhas lá em cima ? Ou uma espada ?” Riu . Que Maldade de Risada ! Ai . “Vai subindo , vou pegar os copos (??) , o Marco tá te esperando.” .Subi como se fosse pra receber o Oscar , o Grammy , o Politzer , o Nobel , afinal , eu estava na FAMOSA ESCADA . Toquei um piano porrada nos dedos sobre o vidro do estúdio . “Entra , Paulo !” . O Marco tinha uma voz estranha . estranha pra caralho . Me senti numa armadilha , como se houvesse algo maior que eu ( sem dúvida ) rolando em tudo aquilo . Eu ia sair correndo , pular portão , raízes , abrir a garrafa com uma pancada na sarjeta e nevermind . Mas , ele repetiu o convite . Que troncho de cara fudidão eu era ? Vai em frente , Paulão . Fui , capeta . Eram dois ambientes , o primeiro lotado de quadros , o segundo guardava a voz estranha . Parei nos quadros . Uma espécie de cofre levitando no céu . Um pedaço de queijo esmagado em um buraco de rato . Um cigarro amassado na palma perfeita , renascentista , de uma mão . Parece bosta , mas não , a escolha das cores , os tons , os relevos . Arte pura . Na cara . “cê taí , Paulo ?” . Tô , Marco . Morrendo diante de quadros sublimes . “Cadê a Marina ?” . “Eu trouxe um vinho , ela foi buscar os cálices” “Ah...os copossss” . Era isso , ele prolongava o final das palavras e parecia terminar em algo salivento . Vamos ao segundo ambiente , Paulão .
E daí , cercado por uma caixote de vidro imenso , esse quarto , com todas cortinas abertas , lá estava Marco . Sentado em uma poltrona confortável , cercado por almofadões . Segurando com a mão torta , retorcida , uma bengala . Aliás , todo o lado direito do seu corpo era torto & retorcido , uma gota da baba na boca . “E aí , Paulo ? Gostou dos quadros ? Eles que vão pra exposiçãooooo” . “Gostei , pra caralho , Marco” . E demorei pra tomar coragem e sentar , foi a mão de Marina , quente , que chegou no meu ombro , fazendo uma leve pressão pra baixo . Estalei os joelhos ocos e sentei no almofadão com Shiva desenhado . Silêncio , a não ser pelo barulho da rolha em Marina ( “rolha em Marina”??...ai , Nossa Senhora ! Rogai por nós tarados pecadores , o cara é um paralítico fudido !!) . Vinho quase fervendo nos copos de requeijão . Matei o primeiro copo de golada , fiquei ainda com mais sede e estendi o braço pra me servir de mais . Então ele começou : - Foi um derrame , 1999 , eu era promotor de eventos pra Coca – Cola , um dia , trabalhando , senti uma fisgada na cabeça e apaguei . Apagado por 3 meses . Fisioterapia , terapia ocupacional , fono . dispensei a psicóloga , fora minha mãe , são todas uma vacas incompetentes . Dispensei também a cadeira de rodas . No início eu me esfregava pelo chão , como um berne envenenado . Eu tentava falar , mas a voz , ou o único som que eu conseguia produzir , saia pelo cú . A Marina era minha terapeuta ocupacional . Foi ela que me fez andar , no dia que eu vi o bico do peito dela , um ...favor...pro doente , foi assim que ela me disse , pra sacanear com minha auto piedade . Andei . Foi com ela que eu fiz a festa , no dia em que subi essa escada . É dela a mão no quadro . E eu sou o cigarro . Ela não se queimou comigo . Ela que fez meu pau subir , torto , mas subir . Ela que me ajudou a assinar o primeiro quadro da minha vida , enquanto eu chorava e tinha náuseas de felicidade . E não parei mais . Se sou um cigarro , que a vida me trague até o filtro . É brasa , mora ?
(RISOS DOS DOIS . CÓLICA EM MIM ) . Ele devia ter uns dez anos a mais que eu , cabelos compridos , negros , óculos escuros , o tempo todo um sorriso torto , que não parecia defeito , mais um esgar irônico e bem humorado constante . Eu estava apaixonado pelos dois . Existem armadilhas do Bem . Ou do Além do Bem .E logo o papo estava animado , fumamos , rimos , ele desenhou minha cara com giz vermelho e azul em uma folha sulfite . Fiquei incrivelmente bonito e real , esquisito isso . Por fim :
- Porra , Marco , você é vida pura , Marina teu cara é demais . Quantos anos você tem , cara ?
- 42 . sou de janeiro .
- Eu também . 22 de janeiro . 1970 .
- Sério ? – Marina arregalando os olhos de fruta doce .
E caíram na gargalhada . Acendi mais um pra esperar passar . Tudo era natural , inclusive o Tempo certo pras coisas .
Ela :
- É que...ai ,ai...o Marco também é de 22 de janeiro . Olha eu aqui com esses dois aquarianos malucos ! Tá explicado !
E caímos na gargalhada .
Beijos .
Paulo.
Icq: 173033938 (UIN)



Vou abrir a exposição de um cara chamado Marco Pegolli , os curadores me chamaram para o coquetel na terça que vem . Eu não conhecia absolutamente nada do sujeito e pedi pra ir visitar o estúdio , bater um papo com o cara , saber qualé . Liguei , a namorada atendeu , voz gostosa , melosa , sem ser rapínica disfarçada , imaginei blusinha colada , shortinho amarelo , lambuzado das tintas do Marco . Marquei pra hora do almoço , hoje uma estrevista , pra poder escrever uma matéria sobre o trabalho dele para o jornal e me preparar para a noite daqui 1 semana . Pensei em levar um dos meus quadros , mas achei puta prepotência , tive certeza que era puta prepotência , em se tratando de mim . Só levei um vinho e camisinhas , na fantasia de que o cara não estivesse em casa ( não ouvi a voz do artista no telefone , ao longe e tenho um ouvido de tuberculoso pra sacanagem ) , ou de que ele fosse um ARTISTA MODERNO ( um sacana putão , tipo que conheço bem na frente do espelho , nos dias que resolvo fazer a barba ) e encarasse uma brincadeira francesa .
Lugar bacana , atrás do muro branco , através do portão , não dava pra ver porra alguma , era só árvores centenárias , suas raízes gigantescas e um caminho sutil de terra batida , que se aprofundava no escuro . A menina veio atender . Oi meloso bacana . Moleton , camiseta branca , sem sutiã , tênis bamba-like . Tudo de bom . Eu com o vinho debaixo do suvaco suado . “Oi ...o Marco taí ?” . “Claro , você não queria conversar com ele ? Vem , entra” ( imediatamente as camisinhas secaram dentro do bolso , viraram condons múmia , vergonha , humilhação , adolescente , zé mané , você não está mais nos seus melhores anos , a loucura já passou , o trem virou metrô e te empurraram pra fora , idiota , fica na sua , vê o cara , entrevista o cara , e peça perdão pra Nossa Sra. Aparecida ) . Entrei , caminho de terra vermelha . E ela foi explicando , embaixo era a casa , em cima era o estúdio. “E aqui , Paulo , é a famosa escada.”. Grande merda . Uma escada que ligava em um lance , a casa com o estúdio . Artistas malucos e de merda . Eu precisava da merda daquele vinho . “Você tem saca rolhas lá em cima ? Ou uma espada ?” Riu . Que Maldade de Risada ! Ai . “Vai subindo , vou pegar os copos (??) , o Marco tá te esperando.” .Subi como se fosse pra receber o Oscar , o Grammy , o Politzer , o Nobel , afinal , eu estava na FAMOSA ESCADA . Toquei um piano porrada nos dedos sobre o vidro do estúdio . “Entra , Paulo !” . O Marco tinha uma voz estranha . estranha pra caralho . Me senti numa armadilha , como se houvesse algo maior que eu ( sem dúvida ) rolando em tudo aquilo . Eu ia sair correndo , pular portão , raízes , abrir a garrafa com uma pancada na sarjeta e nevermind . Mas , ele repetiu o convite . Que troncho de cara fudidão eu era ? Vai em frente , Paulão . Fui , capeta . Eram dois ambientes , o primeiro lotado de quadros , o segundo guardava a voz estranha . Parei nos quadros . Uma espécie de cofre levitando no céu . Um pedaço de queijo esmagado em um buraco de rato . Um cigarro amassado na palma perfeita , renascentista , de uma mão . Parece bosta , mas não , a escolha das cores , os tons , os relevos . Arte pura . Na cara . “cê taí , Paulo ?” . Tô , Marco . Morrendo diante de quadros sublimes . “Cadê a Marina ?” . “Eu trouxe um vinho , ela foi buscar os cálices” “Ah...os copossss” . Era isso , ele prolongava o final das palavras e parecia terminar em algo salivento . Vamos ao segundo ambiente , Paulão .
E daí , cercado por uma caixote de vidro imenso , esse quarto , com todas cortinas abertas , lá estava Marco . Sentado em uma poltrona confortável , cercado por almofadões . Segurando com a mão torta , retorcida , uma bengala . Aliás , todo o lado direito do seu corpo era torto & retorcido , uma gota da baba na boca . “E aí , Paulo ? Gostou dos quadros ? Eles que vão pra exposiçãooooo” . “Gostei , pra caralho , Marco” . E demorei pra tomar coragem e sentar , foi a mão de Marina , quente , que chegou no meu ombro , fazendo uma leve pressão pra baixo . Estalei os joelhos ocos e sentei no almofadão com Shiva desenhado . Silêncio , a não ser pelo barulho da rolha em Marina ( “rolha em Marina”??...ai , Nossa Senhora ! Rogai por nós tarados pecadores , o cara é um paralítico fudido !!) . Vinho quase fervendo nos copos de requeijão . Matei o primeiro copo de golada , fiquei ainda com mais sede e estendi o braço pra me servir de mais . Então ele começou : - Foi um derrame , 1999 , eu era promotor de eventos pra Coca – Cola , um dia , trabalhando , senti uma fisgada na cabeça e apaguei . Apagado por 3 meses . Fisioterapia , terapia ocupacional , fono . dispensei a psicóloga , fora minha mãe , são todas uma vacas incompetentes . Dispensei também a cadeira de rodas . No início eu me esfregava pelo chão , como um berne envenenado . Eu tentava falar , mas a voz , ou o único som que eu conseguia produzir , saia pelo cú . A Marina era minha terapeuta ocupacional . Foi ela que me fez andar , no dia que eu vi o bico do peito dela , um ...favor...pro doente , foi assim que ela me disse , pra sacanear com minha auto piedade . Andei . Foi com ela que eu fiz a festa , no dia em que subi essa escada . É dela a mão no quadro . E eu sou o cigarro . Ela não se queimou comigo . Ela que fez meu pau subir , torto , mas subir . Ela que me ajudou a assinar o primeiro quadro da minha vida , enquanto eu chorava e tinha náuseas de felicidade . E não parei mais . Se sou um cigarro , que a vida me trague até o filtro . É brasa , mora ?
(RISOS DOS DOIS . CÓLICA EM MIM ) . Ele devia ter uns dez anos a mais que eu , cabelos compridos , negros , óculos escuros , o tempo todo um sorriso torto , que não parecia defeito , mais um esgar irônico e bem humorado constante . Eu estava apaixonado pelos dois . Existem armadilhas do Bem . Ou do Além do Bem .E logo o papo estava animado , fumamos , rimos , ele desenhou minha cara com giz vermelho e azul em uma folha sulfite . Fiquei incrivelmente bonito e real , esquisito isso . Por fim :
- Porra , Marco , você é vida pura , Marina teu cara é demais . Quantos anos você tem , cara ?
- 42 . sou de janeiro .
- Eu também . 22 de janeiro . 1970 .
- Sério ? – Marina arregalando os olhos de fruta doce .
E caíram na gargalhada . Acendi mais um pra esperar passar . Tudo era natural , inclusive o Tempo certo pras coisas .
Ela :
- É que...ai ,ai...o Marco também é de 22 de janeiro . Olha eu aqui com esses dois aquarianos malucos ! Tá explicado !
E caímos na gargalhada .
Beijos .
Paulo.
Icq: 173033938 (UIN)


Ss


Vou abrir a exposição de um cara chamado Marco Pegolli , os curadores me chamaram para o coquetel na terça que vem . Eu não conhecia absolutamente nada do sujeito e pedi pra ir visitar o estúdio , bater um papo com o cara , saber qualé . Liguei , a namorada atendeu , voz gostosa , melosa , sem ser rapínica disfarçada , imaginei blusinha colada , shortinho amarelo , lambuzado das tintas do Marco . Marquei pra hora do almoço , hoje uma estrevista , pra poder escrever uma matéria sobre o trabalho dele para o jornal e me preparar para a noite daqui 1 semana . Pensei em levar um dos meus quadros , mas achei puta prepotência , tive certeza que era puta prepotência , em se tratando de mim . Só levei um vinho e camisinhas , na fantasia de que o cara não estivesse em casa ( não ouvi a voz do artista no telefone , ao longe e tenho um ouvido de tuberculoso pra sacanagem ) , ou de que ele fosse um ARTISTA MODERNO ( um sacana putão , tipo que conheço bem na frente do espelho , nos dias que resolvo fazer a barba ) e encarasse uma brincadeira francesa .
Lugar bacana , atrás do muro branco , através do portão , não dava pra ver porra alguma , era só árvores centenárias , suas raízes gigantescas e um caminho sutil de terra batida , que se aprofundava no escuro . A menina veio atender . Oi meloso bacana . Moleton , camiseta branca , sem sutiã , tênis bamba-like . Tudo de bom . Eu com o vinho debaixo do suvaco suado . “Oi ...o Marco taí ?” . “Claro , você não queria conversar com ele ? Vem , entra” ( imediatamente as camisinhas secaram dentro do bolso , viraram condons múmia , vergonha , humilhação , adolescente , zé mané , você não está mais nos seus melhores anos , a loucura já passou , o trem virou metrô e te empurraram pra fora , idiota , fica na sua , vê o cara , entrevista o cara , e peça perdão pra Nossa Sra. Aparecida ) . Entrei , caminho de terra vermelha . E ela foi explicando , embaixo era a casa , em cima era o estúdio. “E aqui , Paulo , é a famosa escada.”. Grande merda . Uma escada que ligava em um lance , a casa com o estúdio . Artistas malucos e de merda . Eu precisava da merda daquele vinho . “Você tem saca rolhas lá em cima ? Ou uma espada ?” Riu . Que Maldade de Risada ! Ai . “Vai subindo , vou pegar os copos (??) , o Marco tá te esperando.” .Subi como se fosse pra receber o Oscar , o Grammy , o Politzer , o Nobel , afinal , eu estava na FAMOSA ESCADA . Toquei um piano porrada nos dedos sobre o vidro do estúdio . “Entra , Paulo !” . O Marco tinha uma voz estranha . estranha pra caralho . Me senti numa armadilha , como se houvesse algo maior que eu ( sem dúvida ) rolando em tudo aquilo . Eu ia sair correndo , pular portão , raízes , abrir a garrafa com uma pancada na sarjeta e nevermind . Mas , ele repetiu o convite . Que troncho de cara fudidão eu era ? Vai em frente , Paulão . Fui , capeta . Eram dois ambientes , o primeiro lotado de quadros , o segundo guardava a voz estranha . Parei nos quadros . Uma espécie de cofre levitando no céu . Um pedaço de queijo esmagado em um buraco de rato . Um cigarro amassado na palma perfeita , renascentista , de uma mão . Parece bosta , mas não , a escolha das cores , os tons , os relevos . Arte pura . Na cara . “cê taí , Paulo ?” . Tô , Marco . Morrendo diante de quadros sublimes . “Cadê a Marina ?” . “Eu trouxe um vinho , ela foi buscar os cálices” “Ah...os copossss” . Era isso , ele prolongava o final das palavras e parecia terminar em algo salivento . Vamos ao segundo ambiente , Paulão .
E daí , cercado por uma caixote de vidro imenso , esse quarto , com todas cortinas abertas , lá estava Marco . Sentado em uma poltrona confortável , cercado por almofadões . Segurando com a mão torta , retorcida , uma bengala . Aliás , todo o lado direito do seu corpo era torto & retorcido , uma gota da baba na boca . “E aí , Paulo ? Gostou dos quadros ? Eles que vão pra exposiçãooooo” . “Gostei , pra caralho , Marco” . E demorei pra tomar coragem e sentar , foi a mão de Marina , quente , que chegou no meu ombro , fazendo uma leve pressão pra baixo . Estalei os joelhos ocos e sentei no almofadão com Shiva desenhado . Silêncio , a não ser pelo barulho da rolha em Marina ( “rolha em Marina”??...ai , Nossa Senhora ! Rogai por nós tarados pecadores , o cara é um paralítico fudido !!) . Vinho quase fervendo nos copos de requeijão . Matei o primeiro copo de golada , fiquei ainda com mais sede e estendi o braço pra me servir de mais . Então ele começou : - Foi um derrame , 1999 , eu era promotor de eventos pra Coca – Cola , um dia , trabalhando , senti uma fisgada na cabeça e apaguei . Apagado por 3 meses . Fisioterapia , terapia ocupacional , fono . dispensei a psicóloga , fora minha mãe , são todas uma vacas incompetentes . Dispensei também a cadeira de rodas . No início eu me esfregava pelo chão , como um berne envenenado . Eu tentava falar , mas a voz , ou o único som que eu conseguia produzir , saia pelo cú . A Marina era minha terapeuta ocupacional . Foi ela que me fez andar , no dia que eu vi o bico do peito dela , um ...favor...pro doente , foi assim que ela me disse , pra sacanear com minha auto piedade . Andei . Foi com ela que eu fiz a festa , no dia em que subi essa escada . É dela a mão no quadro . E eu sou o cigarro . Ela não se queimou comigo . Ela que fez meu pau subir , torto , mas subir . Ela que me ajudou a assinar o primeiro quadro da minha vida , enquanto eu chorava e tinha náuseas de felicidade . E não parei mais . Se sou um cigarro , que a vida me trague até o filtro . É brasa , mora ?
(RISOS DOS DOIS . CÓLICA EM MIM ) . Ele devia ter uns dez anos a mais que eu , cabelos compridos , negros , óculos escuros , o tempo todo um sorriso torto , que não parecia defeito , mais um esgar irônico e bem humorado constante . Eu estava apaixonado pelos dois . Existem armadilhas do Bem . Ou do Além do Bem .E logo o papo estava animado , fumamos , rimos , ele desenhou minha cara com giz vermelho e azul em uma folha sulfite . Fiquei incrivelmente bonito e real , esquisito isso . Por fim :
- Porra , Marco , você é vida pura , Marina teu cara é demais . Quantos anos você tem , cara ?
- 42 . sou de janeiro .
- Eu também . 22 de janeiro . 1970 .
- Sério ? – Marina arregalando os olhos de fruta doce .
E caíram na gargalhada . Acendi mais um pra esperar passar . Tudo era natural , inclusive o Tempo certo pras coisas .
Ela :
- É que...ai ,ai...o Marco também é de 22 de janeiro . Olha eu aqui com esses dois aquarianos malucos ! Tá explicado !
E caímos na gargalhada .
Beijos .
Paulo.
Icq: 173033938 (UIN)





Vou abrir a exposição de um cara chamado Marco Pegolli , os curadores me chamaram para o coquetel na terça que vem . Eu não conhecia absolutamente nada do sujeito e pedi pra ir visitar o estúdio , bater um papo com o cara , saber qualé . Liguei , a namorada atendeu , voz gostosa , melosa , sem ser rapínica disfarçada , imaginei blusinha colada , shortinho amarelo , lambuzado das tintas do Marco . Marquei pra hora do almoço , hoje uma estrevista , pra poder escrever uma matéria sobre o trabalho dele para o jornal e me preparar para a noite daqui 1 semana . Pensei em levar um dos meus quadros , mas achei puta prepotência , tive certeza que era puta prepotência , em se tratando de mim . Só levei um vinho e camisinhas , na fantasia de que o cara não estivesse em casa ( não ouvi a voz do artista no telefone , ao longe e tenho um ouvido de tuberculoso pra sacanagem ) , ou de que ele fosse um ARTISTA MODERNO ( um sacana putão , tipo que conheço bem na frente do espelho , nos dias que resolvo fazer a barba ) e encarasse uma brincadeira francesa .
Lugar bacana , atrás do muro branco , através do portão , não dava pra ver porra alguma , era só árvores centenárias , suas raízes gigantescas e um caminho sutil de terra batida , que se aprofundava no escuro . A menina veio atender . Oi meloso bacana . Moleton , camiseta branca , sem sutiã , tênis bamba-like . Tudo de bom . Eu com o vinho debaixo do suvaco suado . “Oi ...o Marco taí ?” . “Claro , você não queria conversar com ele ? Vem , entra” ( imediatamente as camisinhas secaram dentro do bolso , viraram condons múmia , vergonha , humilhação , adolescente , zé mané , você não está mais nos seus melhores anos , a loucura já passou , o trem virou metrô e te empurraram pra fora , idiota , fica na sua , vê o cara , entrevista o cara , e peça perdão pra Nossa Sra. Aparecida ) . Entrei , caminho de terra vermelha . E ela foi explicando , embaixo era a casa , em cima era o estúdio. “E aqui , Paulo , é a famosa escada.”. Grande merda . Uma escada que ligava em um lance , a casa com o estúdio . Artistas malucos e de merda . Eu precisava da merda daquele vinho . “Você tem saca rolhas lá em cima ? Ou uma espada ?” Riu . Que Maldade de Risada ! Ai . “Vai subindo , vou pegar os copos (??) , o Marco tá te esperando.” .Subi como se fosse pra receber o Oscar , o Grammy , o Politzer , o Nobel , afinal , eu estava na FAMOSA ESCADA . Toquei um piano porrada nos dedos sobre o vidro do estúdio . “Entra , Paulo !” . O Marco tinha uma voz estranha . estranha pra caralho . Me senti numa armadilha , como se houvesse algo maior que eu ( sem dúvida ) rolando em tudo aquilo . Eu ia sair correndo , pular portão , raízes , abrir a garrafa com uma pancada na sarjeta e nevermind . Mas , ele repetiu o convite . Que troncho de cara fudidão eu era ? Vai em frente , Paulão . Fui , capeta . Eram dois ambientes , o primeiro lotado de quadros , o segundo guardava a voz estranha . Parei nos quadros . Uma espécie de cofre levitando no céu . Um pedaço de queijo esmagado em um buraco de rato . Um cigarro amassado na palma perfeita , renascentista , de uma mão . Parece bosta , mas não , a escolha das cores , os tons , os relevos . Arte pura . Na cara . “cê taí , Paulo ?” . Tô , Marco . Morrendo diante de quadros sublimes . “Cadê a Marina ?” . “Eu trouxe um vinho , ela foi buscar os cálices” “Ah...os copossss” . Era isso , ele prolongava o final das palavras e parecia terminar em algo salivento . Vamos ao segundo ambiente , Paulão .
E daí , cercado por uma caixote de vidro imenso , esse quarto , com todas cortinas abertas , lá estava Marco . Sentado em uma poltrona confortável , cercado por almofadões . Segurando com a mão torta , retorcida , uma bengala . Aliás , todo o lado direito do seu corpo era torto & retorcido , uma gota da baba na boca . “E aí , Paulo ? Gostou dos quadros ? Eles que vão pra exposiçãooooo” . “Gostei , pra caralho , Marco” . E demorei pra tomar coragem e sentar , foi a mão de Marina , quente , que chegou no meu ombro , fazendo uma leve pressão pra baixo . Estalei os joelhos ocos e sentei no almofadão com Shiva desenhado . Silêncio , a não ser pelo barulho da rolha em Marina ( “rolha em Marina”??...ai , Nossa Senhora ! Rogai por nós tarados pecadores , o cara é um paralítico fudido !!) . Vinho quase fervendo nos copos de requeijão . Matei o primeiro copo de golada , fiquei ainda com mais sede e estendi o braço pra me servir de mais . Então ele começou : - Foi um derrame , 1999 , eu era promotor de eventos pra Coca – Cola , um dia , trabalhando , senti uma fisgada na cabeça e apaguei . Apagado por 3 meses . Fisioterapia , terapia ocupacional , fono . dispensei a psicóloga , fora minha mãe , são todas uma vacas incompetentes . Dispensei também a cadeira de rodas . No início eu me esfregava pelo chão , como um berne envenenado . Eu tentava falar , mas a voz , ou o único som que eu conseguia produzir , saia pelo cú . A Marina era minha terapeuta ocupacional . Foi ela que me fez andar , no dia que eu vi o bico do peito dela , um ...favor...pro doente , foi assim que ela me disse , pra sacanear com minha auto piedade . Andei . Foi com ela que eu fiz a festa , no dia em que subi essa escada . É dela a mão no quadro . E eu sou o cigarro . Ela não se queimou comigo . Ela que fez meu pau subir , torto , mas subir . Ela que me ajudou a assinar o primeiro quadro da minha vida , enquanto eu chorava e tinha náuseas de felicidade . E não parei mais . Se sou um cigarro , que a vida me trague até o filtro . É brasa , mora ?
(RISOS DOS DOIS . CÓLICA EM MIM ) . Ele devia ter uns dez anos a mais que eu , cabelos compridos , negros , óculos escuros , o tempo todo um sorriso torto , que não parecia defeito , mais um esgar irônico e bem humorado constante . Eu estava apaixonado pelos dois . Existem armadilhas do Bem . Ou do Além do Bem .E logo o papo estava animado , fumamos , rimos , ele desenhou minha cara com giz vermelho e azul em uma folha sulfite . Fiquei incrivelmente bonito e real , esquisito isso . Por fim :
- Porra , Marco , você é vida pura , Marina teu cara é demais . Quantos anos você tem , cara ?
- 42 . sou de janeiro .
- Eu também . 22 de janeiro . 1970 .
- Sério ? – Marina arregalando os olhos de fruta doce .
E caíram na gargalhada . Acendi mais um pra esperar passar . Tudo era natural , inclusive o Tempo certo pras coisas .
Ela :
- É que...ai ,ai...o Marco também é de 22 de janeiro . Olha eu aqui com esses dois aquarianos malucos ! Tá explicado !
E caímos na gargalhada .
Beijos .
Paulo.
Icq: 173033938 (UIN)


teste2




Vou abrir a exposição de um cara chamado Marco Pegolli , os curadores me chamaram para o coquetel na terça que vem . Eu não conhecia absolutamente nada do sujeito e pedi pra ir visitar o estúdio , bater um papo com o cara , saber qualé . Liguei , a namorada atendeu , voz gostosa , melosa , sem ser rapínica disfarçada , imaginei blusinha colada , shortinho amarelo , lambuzado das tintas do Marco . Marquei pra hora do almoço , hoje uma estrevista , pra poder escrever uma matéria sobre o trabalho dele para o jornal e me preparar para a noite daqui 1 semana . Pensei em levar um dos meus quadros , mas achei puta prepotência , tive certeza que era puta prepotência , em se tratando de mim . Só levei um vinho e camisinhas , na fantasia de que o cara não estivesse em casa ( não ouvi a voz do artista no telefone , ao longe e tenho um ouvido de tuberculoso pra sacanagem ) , ou de que ele fosse um ARTISTA MODERNO ( um sacana putão , tipo que conheço bem na frente do espelho , nos dias que resolvo fazer a barba ) e encarasse uma brincadeira francesa .
Lugar bacana , atrás do muro branco , através do portão , não dava pra ver porra alguma , era só árvores centenárias , suas raízes gigantescas e um caminho sutil de terra batida , que se aprofundava no escuro . A menina veio atender . Oi meloso bacana . Moleton , camiseta branca , sem sutiã , tênis bamba-like . Tudo de bom . Eu com o vinho debaixo do suvaco suado . “Oi ...o Marco taí ?” . “Claro , você não queria conversar com ele ? Vem , entra” ( imediatamente as camisinhas secaram dentro do bolso , viraram condons múmia , vergonha , humilhação , adolescente , zé mané , você não está mais nos seus melhores anos , a loucura já passou , o trem virou metrô e te empurraram pra fora , idiota , fica na sua , vê o cara , entrevista o cara , e peça perdão pra Nossa Sra. Aparecida ) . Entrei , caminho de terra vermelha . E ela foi explicando , embaixo era a casa , em cima era o estúdio. “E aqui , Paulo , é a famosa escada.”. Grande merda . Uma escada que ligava em um lance , a casa com o estúdio . Artistas malucos e de merda . Eu precisava da merda daquele vinho . “Você tem saca rolhas lá em cima ? Ou uma espada ?” Riu . Que Maldade de Risada ! Ai . “Vai subindo , vou pegar os copos (??) , o Marco tá te esperando.” .Subi como se fosse pra receber o Oscar , o Grammy , o Politzer , o Nobel , afinal , eu estava na FAMOSA ESCADA . Toquei um piano porrada nos dedos sobre o vidro do estúdio . “Entra , Paulo !” . O Marco tinha uma voz estranha . estranha pra caralho . Me senti numa armadilha , como se houvesse algo maior que eu ( sem dúvida ) rolando em tudo aquilo . Eu ia sair correndo , pular portão , raízes , abrir a garrafa com uma pancada na sarjeta e nevermind . Mas , ele repetiu o convite . Que troncho de cara fudidão eu era ? Vai em frente , Paulão . Fui , capeta . Eram dois ambientes , o primeiro lotado de quadros , o segundo guardava a voz estranha . Parei nos quadros . Uma espécie de cofre levitando no céu . Um pedaço de queijo esmagado em um buraco de rato . Um cigarro amassado na palma perfeita , renascentista , de uma mão . Parece bosta , mas não , a escolha das cores , os tons , os relevos . Arte pura . Na cara . “cê taí , Paulo ?” . Tô , Marco . Morrendo diante de quadros sublimes . “Cadê a Marina ?” . “Eu trouxe um vinho , ela foi buscar os cálices” “Ah...os copossss” . Era isso , ele prolongava o final das palavras e parecia terminar em algo salivento . Vamos ao segundo ambiente , Paulão .
E daí , cercado por uma caixote de vidro imenso , esse quarto , com todas cortinas abertas , lá estava Marco . Sentado em uma poltrona confortável , cercado por almofadões . Segurando com a mão torta , retorcida , uma bengala . Aliás , todo o lado direito do seu corpo era torto & retorcido , uma gota da baba na boca . “E aí , Paulo ? Gostou dos quadros ? Eles que vão pra exposiçãooooo” . “Gostei , pra caralho , Marco” . E demorei pra tomar coragem e sentar , foi a mão de Marina , quente , que chegou no meu ombro , fazendo uma leve pressão pra baixo . Estalei os joelhos ocos e sentei no almofadão com Shiva desenhado . Silêncio , a não ser pelo barulho da rolha em Marina ( “rolha em Marina”??...ai , Nossa Senhora ! Rogai por nós tarados pecadores , o cara é um paralítico fudido !!) . Vinho quase fervendo nos copos de requeijão . Matei o primeiro copo de golada , fiquei ainda com mais sede e estendi o braço pra me servir de mais . Então ele começou : - Foi um derrame , 1999 , eu era promotor de eventos pra Coca – Cola , um dia , trabalhando , senti uma fisgada na cabeça e apaguei . Apagado por 3 meses . Fisioterapia , terapia ocupacional , fono . dispensei a psicóloga , fora minha mãe , são todas uma vacas incompetentes . Dispensei também a cadeira de rodas . No início eu me esfregava pelo chão , como um berne envenenado . Eu tentava falar , mas a voz , ou o único som que eu conseguia produzir , saia pelo cú . A Marina era minha terapeuta ocupacional . Foi ela que me fez andar , no dia que eu vi o bico do peito dela , um ...favor...pro doente , foi assim que ela me disse , pra sacanear com minha auto piedade . Andei . Foi com ela que eu fiz a festa , no dia em que subi essa escada . É dela a mão no quadro . E eu sou o cigarro . Ela não se queimou comigo . Ela que fez meu pau subir , torto , mas subir . Ela que me ajudou a assinar o primeiro quadro da minha vida , enquanto eu chorava e tinha náuseas de felicidade . E não parei mais . Se sou um cigarro , que a vida me trague até o filtro . É brasa , mora ?
(RISOS DOS DOIS . CÓLICA EM MIM ) . Ele devia ter uns dez anos a mais que eu , cabelos compridos , negros , óculos escuros , o tempo todo um sorriso torto , que não parecia defeito , mais um esgar irônico e bem humorado constante . Eu estava apaixonado pelos dois . Existem armadilhas do Bem . Ou do Além do Bem .E logo o papo estava animado , fumamos , rimos , ele desenhou minha cara com giz vermelho e azul em uma folha sulfite . Fiquei incrivelmente bonito e real , esquisito isso . Por fim :
- Porra , Marco , você é vida pura , Marina teu cara é demais . Quantos anos você tem , cara ?
- 42 . sou de janeiro .
- Eu também . 22 de janeiro . 1970 .
- Sério ? – Marina arregalando os olhos de fruta doce .
E caíram na gargalhada . Acendi mais um pra esperar passar . Tudo era natural , inclusive o Tempo certo pras coisas .
Ela :
- É que...ai ,ai...o Marco também é de 22 de janeiro . Olha eu aqui com esses dois aquarianos malucos ! Tá explicado !
E caímos na gargalhada .
Beijos .
Paulo.
Icq: 173033938 (UIN)





Vou abrir a exposição de um cara chamado Marco Pegolli , os curadores me chamaram para o coquetel na terça que vem . Eu não conhecia absolutamente nada do sujeito e pedi pra ir visitar o estúdio , bater um papo com o cara , saber qualé . Liguei , a namorada atendeu , voz gostosa , melosa , sem ser rapínica disfarçada , imaginei blusinha colada , shortinho amarelo , lambuzado das tintas do Marco . Marquei pra hora do almoço , hoje uma estrevista , pra poder escrever uma matéria sobre o trabalho dele para o jornal e me preparar para a noite daqui 1 semana . Pensei em levar um dos meus quadros , mas achei puta prepotência , tive certeza que era puta prepotência , em se tratando de mim . Só levei um vinho e camisinhas , na fantasia de que o cara não estivesse em casa ( não ouvi a voz do artista no telefone , ao longe e tenho um ouvido de tuberculoso pra sacanagem ) , ou de que ele fosse um ARTISTA MODERNO ( um sacana putão , tipo que conheço bem na frente do espelho , nos dias que resolvo fazer a barba ) e encarasse uma brincadeira francesa .
Lugar bacana , atrás do muro branco , através do portão , não dava pra ver porra alguma , era só árvores centenárias , suas raízes gigantescas e um caminho sutil de terra batida , que se aprofundava no escuro . A menina veio atender . Oi meloso bacana . Moleton , camiseta branca , sem sutiã , tênis bamba-like . Tudo de bom . Eu com o vinho debaixo do suvaco suado . “Oi ...o Marco taí ?” . “Claro , você não queria conversar com ele ? Vem , entra” ( imediatamente as camisinhas secaram dentro do bolso , viraram condons múmia , vergonha , humilhação , adolescente , zé mané , você não está mais nos seus melhores anos , a loucura já passou , o trem virou metrô e te empurraram pra fora , idiota , fica na sua , vê o cara , entrevista o cara , e peça perdão pra Nossa Sra. Aparecida ) . Entrei , caminho de terra vermelha . E ela foi explicando , embaixo era a casa , em cima era o estúdio. “E aqui , Paulo , é a famosa escada.”. Grande merda . Uma escada que ligava em um lance , a casa com o estúdio . Artistas malucos e de merda . Eu precisava da merda daquele vinho . “Você tem saca rolhas lá em cima ? Ou uma espada ?” Riu . Que Maldade de Risada ! Ai . “Vai subindo , vou pegar os copos (??) , o Marco tá te esperando.” .Subi como se fosse pra receber o Oscar , o Grammy , o Politzer , o Nobel , afinal , eu estava na FAMOSA ESCADA . Toquei um piano porrada nos dedos sobre o vidro do estúdio . “Entra , Paulo !” . O Marco tinha uma voz estranha . estranha pra caralho . Me senti numa armadilha , como se houvesse algo maior que eu ( sem dúvida ) rolando em tudo aquilo . Eu ia sair correndo , pular portão , raízes , abrir a garrafa com uma pancada na sarjeta e nevermind . Mas , ele repetiu o convite . Que troncho de cara fudidão eu era ? Vai em frente , Paulão . Fui , capeta . Eram dois ambientes , o primeiro lotado de quadros , o segundo guardava a voz estranha . Parei nos quadros . Uma espécie de cofre levitando no céu . Um pedaço de queijo esmagado em um buraco de rato . Um cigarro amassado na palma perfeita , renascentista , de uma mão . Parece bosta , mas não , a escolha das cores , os tons , os relevos . Arte pura . Na cara . “cê taí , Paulo ?” . Tô , Marco . Morrendo diante de quadros sublimes . “Cadê a Marina ?” . “Eu trouxe um vinho , ela foi buscar os cálices” “Ah...os copossss” . Era isso , ele prolongava o final das palavras e parecia terminar em algo salivento . Vamos ao segundo ambiente , Paulão .
E daí , cercado por uma caixote de vidro imenso , esse quarto , com todas cortinas abertas , lá estava Marco . Sentado em uma poltrona confortável , cercado por almofadões . Segurando com a mão torta , retorcida , uma bengala . Aliás , todo o lado direito do seu corpo era torto & retorcido , uma gota da baba na boca . “E aí , Paulo ? Gostou dos quadros ? Eles que vão pra exposiçãooooo” . “Gostei , pra caralho , Marco” . E demorei pra tomar coragem e sentar , foi a mão de Marina , quente , que chegou no meu ombro , fazendo uma leve pressão pra baixo . Estalei os joelhos ocos e sentei no almofadão com Shiva desenhado . Silêncio , a não ser pelo barulho da rolha em Marina ( “rolha em Marina”??...ai , Nossa Senhora ! Rogai por nós tarados pecadores , o cara é um paralítico fudido !!) . Vinho quase fervendo nos copos de requeijão . Matei o primeiro copo de golada , fiquei ainda com mais sede e estendi o braço pra me servir de mais . Então ele começou : - Foi um derrame , 1999 , eu era promotor de eventos pra Coca – Cola , um dia , trabalhando , senti uma fisgada na cabeça e apaguei . Apagado por 3 meses . Fisioterapia , terapia ocupacional , fono . dispensei a psicóloga , fora minha mãe , são todas uma vacas incompetentes . Dispensei também a cadeira de rodas . No início eu me esfregava pelo chão , como um berne envenenado . Eu tentava falar , mas a voz , ou o único som que eu conseguia produzir , saia pelo cú . A Marina era minha terapeuta ocupacional . Foi ela que me fez andar , no dia que eu vi o bico do peito dela , um ...favor...pro doente , foi assim que ela me disse , pra sacanear com minha auto piedade . Andei . Foi com ela que eu fiz a festa , no dia em que subi essa escada . É dela a mão no quadro . E eu sou o cigarro . Ela não se queimou comigo . Ela que fez meu pau subir , torto , mas subir . Ela que me ajudou a assinar o primeiro quadro da minha vida , enquanto eu chorava e tinha náuseas de felicidade . E não parei mais . Se sou um cigarro , que a vida me trague até o filtro . É brasa , mora ?
(RISOS DOS DOIS . CÓLICA EM MIM ) . Ele devia ter uns dez anos a mais que eu , cabelos compridos , negros , óculos escuros , o tempo todo um sorriso torto , que não parecia defeito , mais um esgar irônico e bem humorado constante . Eu estava apaixonado pelos dois . Existem armadilhas do Bem . Ou do Além do Bem .E logo o papo estava animado , fumamos , rimos , ele desenhou minha cara com giz vermelho e azul em uma folha sulfite . Fiquei incrivelmente bonito e real , esquisito isso . Por fim :
- Porra , Marco , você é vida pura , Marina teu cara é demais . Quantos anos você tem , cara ?
- 42 . sou de janeiro .
- Eu também . 22 de janeiro . 1970 .
- Sério ? – Marina arregalando os olhos de fruta doce .
E caíram na gargalhada . Acendi mais um pra esperar passar . Tudo era natural , inclusive o Tempo certo pras coisas .
Ela :
- É que...ai ,ai...o Marco também é de 22 de janeiro . Olha eu aqui com esses dois aquarianos malucos ! Tá explicado !
E caímos na gargalhada .
Beijos .
Paulo.
Icq: 173033938 (UIN)





Vou abrir a exposição de um cara chamado Marco Pegolli , os curadores me chamaram para o coquetel na terça que vem . Eu não conhecia absolutamente nada do sujeito e pedi pra ir visitar o estúdio , bater um papo com o cara , saber qualé . Liguei , a namorada atendeu , voz gostosa , melosa , sem ser rapínica disfarçada , imaginei blusinha colada , shortinho amarelo , lambuzado das tintas do Marco . Marquei pra hora do almoço , hoje uma estrevista , pra poder escrever uma matéria sobre o trabalho dele para o jornal e me preparar para a noite daqui 1 semana . Pensei em levar um dos meus quadros , mas achei puta prepotência , tive certeza que era puta prepotência , em se tratando de mim . Só levei um vinho e camisinhas , na fantasia de que o cara não estivesse em casa ( não ouvi a voz do artista no telefone , ao longe e tenho um ouvido de tuberculoso pra sacanagem ) , ou de que ele fosse um ARTISTA MODERNO ( um sacana putão , tipo que conheço bem na frente do espelho , nos dias que resolvo fazer a barba ) e encarasse uma brincadeira francesa .
Lugar bacana , atrás do muro branco , através do portão , não dava pra ver porra alguma , era só árvores centenárias , suas raízes gigantescas e um caminho sutil de terra batida , que se aprofundava no escuro . A menina veio atender . Oi meloso bacana . Moleton , camiseta branca , sem sutiã , tênis bamba-like . Tudo de bom . Eu com o vinho debaixo do suvaco suado . “Oi ...o Marco taí ?” . “Claro , você não queria conversar com ele ? Vem , entra” ( imediatamente as camisinhas secaram dentro do bolso , viraram condons múmia , vergonha , humilhação , adolescente , zé mané , você não está mais nos seus melhores anos , a loucura já passou , o trem virou metrô e te empurraram pra fora , idiota , fica na sua , vê o cara , entrevista o cara , e peça perdão pra Nossa Sra. Aparecida ) . Entrei , caminho de terra vermelha . E ela foi explicando , embaixo era a casa , em cima era o estúdio. “E aqui , Paulo , é a famosa escada.”. Grande merda . Uma escada que ligava em um lance , a casa com o estúdio . Artistas malucos e de merda . Eu precisava da merda daquele vinho . “Você tem saca rolhas lá em cima ? Ou uma espada ?” Riu . Que Maldade de Risada ! Ai . “Vai subindo , vou pegar os copos (??) , o Marco tá te esperando.” .Subi como se fosse pra receber o Oscar , o Grammy , o Politzer , o Nobel , afinal , eu estava na FAMOSA ESCADA . Toquei um piano porrada nos dedos sobre o vidro do estúdio . “Entra , Paulo !” . O Marco tinha uma voz estranha . estranha pra caralho . Me senti numa armadilha , como se houvesse algo maior que eu ( sem dúvida ) rolando em tudo aquilo . Eu ia sair correndo , pular portão , raízes , abrir a garrafa com uma pancada na sarjeta e nevermind . Mas , ele repetiu o convite . Que troncho de cara fudidão eu era ? Vai em frente , Paulão . Fui , capeta . Eram dois ambientes , o primeiro lotado de quadros , o segundo guardava a voz estranha . Parei nos quadros . Uma espécie de cofre levitando no céu . Um pedaço de queijo esmagado em um buraco de rato . Um cigarro amassado na palma perfeita , renascentista , de uma mão . Parece bosta , mas não , a escolha das cores , os tons , os relevos . Arte pura . Na cara . “cê taí , Paulo ?” . Tô , Marco . Morrendo diante de quadros sublimes . “Cadê a Marina ?” . “Eu trouxe um vinho , ela foi buscar os cálices” “Ah...os copossss” . Era isso , ele prolongava o final das palavras e parecia terminar em algo salivento . Vamos ao segundo ambiente , Paulão .
E daí , cercado por uma caixote de vidro imenso , esse quarto , com todas cortinas abertas , lá estava Marco . Sentado em uma poltrona confortável , cercado por almofadões . Segurando com a mão torta , retorcida , uma bengala . Aliás , todo o lado direito do seu corpo era torto & retorcido , uma gota da baba na boca . “E aí , Paulo ? Gostou dos quadros ? Eles que vão pra exposiçãooooo” . “Gostei , pra caralho , Marco” . E demorei pra tomar coragem e sentar , foi a mão de Marina , quente , que chegou no meu ombro , fazendo uma leve pressão pra baixo . Estalei os joelhos ocos e sentei no almofadão com Shiva desenhado . Silêncio , a não ser pelo barulho da rolha em Marina ( “rolha em Marina”??...ai , Nossa Senhora ! Rogai por nós tarados pecadores , o cara é um paralítico fudido !!) . Vinho quase fervendo nos copos de requeijão . Matei o primeiro copo de golada , fiquei ainda com mais sede e estendi o braço pra me servir de mais . Então ele começou : - Foi um derrame , 1999 , eu era promotor de eventos pra Coca – Cola , um dia , trabalhando , senti uma fisgada na cabeça e apaguei . Apagado por 3 meses . Fisioterapia , terapia ocupacional , fono . dispensei a psicóloga , fora minha mãe , são todas uma vacas incompetentes . Dispensei também a cadeira de rodas . No início eu me esfregava pelo chão , como um berne envenenado . Eu tentava falar , mas a voz , ou o único som que eu conseguia produzir , saia pelo cú . A Marina era minha terapeuta ocupacional . Foi ela que me fez andar , no dia que eu vi o bico do peito dela , um ...favor...pro doente , foi assim que ela me disse , pra sacanear com minha auto piedade . Andei . Foi com ela que eu fiz a festa , no dia em que subi essa escada . É dela a mão no quadro . E eu sou o cigarro . Ela não se queimou comigo . Ela que fez meu pau subir , torto , mas subir . Ela que me ajudou a assinar o primeiro quadro da minha vida , enquanto eu chorava e tinha náuseas de felicidade . E não parei mais . Se sou um cigarro , que a vida me trague até o filtro . É brasa , mora ?
(RISOS DOS DOIS . CÓLICA EM MIM ) . Ele devia ter uns dez anos a mais que eu , cabelos compridos , negros , óculos escuros , o tempo todo um sorriso torto , que não parecia defeito , mais um esgar irônico e bem humorado constante . Eu estava apaixonado pelos dois . Existem armadilhas do Bem . Ou do Além do Bem .E logo o papo estava animado , fumamos , rimos , ele desenhou minha cara com giz vermelho e azul em uma folha sulfite . Fiquei incrivelmente bonito e real , esquisito isso . Por fim :
- Porra , Marco , você é vida pura , Marina teu cara é demais . Quantos anos você tem , cara ?
- 42 . sou de janeiro .
- Eu também . 22 de janeiro . 1970 .
- Sério ? – Marina arregalando os olhos de fruta doce .
E caíram na gargalhada . Acendi mais um pra esperar passar . Tudo era natural , inclusive o Tempo certo pras coisas .
Ela :
- É que...ai ,ai...o Marco também é de 22 de janeiro . Olha eu aqui com esses dois aquarianos malucos ! Tá explicado !
E caímos na gargalhada .
Beijos .
Paulo.
Icq: 173033938 (UIN)





Vou abrir a exposição de um cara chamado Marco Pegolli , os curadores me chamaram para o coquetel na terça que vem . Eu não conhecia absolutamente nada do sujeito e pedi pra ir visitar o estúdio , bater um papo com o cara , saber qualé . Liguei , a namorada atendeu , voz gostosa , melosa , sem ser rapínica disfarçada , imaginei blusinha colada , shortinho amarelo , lambuzado das tintas do Marco . Marquei pra hora do almoço , hoje uma estrevista , pra poder escrever uma matéria sobre o trabalho dele para o jornal e me preparar para a noite daqui 1 semana . Pensei em levar um dos meus quadros , mas achei puta prepotência , tive certeza que era puta prepotência , em se tratando de mim . Só levei um vinho e camisinhas , na fantasia de que o cara não estivesse em casa ( não ouvi a voz do artista no telefone , ao longe e tenho um ouvido de tuberculoso pra sacanagem ) , ou de que ele fosse um ARTISTA MODERNO ( um sacana putão , tipo que conheço bem na frente do espelho , nos dias que resolvo fazer a barba ) e encarasse uma brincadeira francesa .
Lugar bacana , atrás do muro branco , através do portão , não dava pra ver porra alguma , era só árvores centenárias , suas raízes gigantescas e um caminho sutil de terra batida , que se aprofundava no escuro . A menina veio atender . Oi meloso bacana . Moleton , camiseta branca , sem sutiã , tênis bamba-like . Tudo de bom . Eu com o vinho debaixo do suvaco suado . “Oi ...o Marco taí ?” . “Claro , você não queria conversar com ele ? Vem , entra” ( imediatamente as camisinhas secaram dentro do bolso , viraram condons múmia , vergonha , humilhação , adolescente , zé mané , você não está mais nos seus melhores anos , a loucura já passou , o trem virou metrô e te empurraram pra fora , idiota , fica na sua , vê o cara , entrevista o cara , e peça perdão pra Nossa Sra. Aparecida ) . Entrei , caminho de terra vermelha . E ela foi explicando , embaixo era a casa , em cima era o estúdio. “E aqui , Paulo , é a famosa escada.”. Grande merda . Uma escada que ligava em um lance , a casa com o estúdio . Artistas malucos e de merda . Eu precisava da merda daquele vinho . “Você tem saca rolhas lá em cima ? Ou uma espada ?” Riu . Que Maldade de Risada ! Ai . “Vai subindo , vou pegar os copos (??) , o Marco tá te esperando.” .Subi como se fosse pra receber o Oscar , o Grammy , o Politzer , o Nobel , afinal , eu estava na FAMOSA ESCADA . Toquei um piano porrada nos dedos sobre o vidro do estúdio . “Entra , Paulo !” . O Marco tinha uma voz estranha . estranha pra caralho . Me senti numa armadilha , como se houvesse algo maior que eu ( sem dúvida ) rolando em tudo aquilo . Eu ia sair correndo , pular portão , raízes , abrir a garrafa com uma pancada na sarjeta e nevermind . Mas , ele repetiu o convite . Que troncho de cara fudidão eu era ? Vai em frente , Paulão . Fui , capeta . Eram dois ambientes , o primeiro lotado de quadros , o segundo guardava a voz estranha . Parei nos quadros . Uma espécie de cofre levitando no céu . Um pedaço de queijo esmagado em um buraco de rato . Um cigarro amassado na palma perfeita , renascentista , de uma mão . Parece bosta , mas não , a escolha das cores , os tons , os relevos . Arte pura . Na cara . “cê taí , Paulo ?” . Tô , Marco . Morrendo diante de quadros sublimes . “Cadê a Marina ?” . “Eu trouxe um vinho , ela foi buscar os cálices” “Ah...os copossss” . Era isso , ele prolongava o final das palavras e parecia terminar em algo salivento . Vamos ao segundo ambiente , Paulão .
E daí , cercado por uma caixote de vidro imenso , esse quarto , com todas cortinas abertas , lá estava Marco . Sentado em uma poltrona confortável , cercado por almofadões . Segurando com a mão torta , retorcida , uma bengala . Aliás , todo o lado direito do seu corpo era torto & retorcido , uma gota da baba na boca . “E aí , Paulo ? Gostou dos quadros ? Eles que vão pra exposiçãooooo” . “Gostei , pra caralho , Marco” . E demorei pra tomar coragem e sentar , foi a mão de Marina , quente , que chegou no meu ombro , fazendo uma leve pressão pra baixo . Estalei os joelhos ocos e sentei no almofadão com Shiva desenhado . Silêncio , a não ser pelo barulho da rolha em Marina ( “rolha em Marina”??...ai , Nossa Senhora ! Rogai por nós tarados pecadores , o cara é um paralítico fudido !!) . Vinho quase fervendo nos copos de requeijão . Matei o primeiro copo de golada , fiquei ainda com mais sede e estendi o braço pra me servir de mais . Então ele começou : - Foi um derrame , 1999 , eu era promotor de eventos pra Coca – Cola , um dia , trabalhando , senti uma fisgada na cabeça e apaguei . Apagado por 3 meses . Fisioterapia , terapia ocupacional , fono . dispensei a psicóloga , fora minha mãe , são todas uma vacas incompetentes . Dispensei também a cadeira de rodas . No início eu me esfregava pelo chão , como um berne envenenado . Eu tentava falar , mas a voz , ou o único som que eu conseguia produzir , saia pelo cú . A Marina era minha terapeuta ocupacional . Foi ela que me fez andar , no dia que eu vi o bico do peito dela , um ...favor...pro doente , foi assim que ela me disse , pra sacanear com minha auto piedade . Andei . Foi com ela que eu fiz a festa , no dia em que subi essa escada . É dela a mão no quadro . E eu sou o cigarro . Ela não se queimou comigo . Ela que fez meu pau subir , torto , mas subir . Ela que me ajudou a assinar o primeiro quadro da minha vida , enquanto eu chorava e tinha náuseas de felicidade . E não parei mais . Se sou um cigarro , que a vida me trague até o filtro . É brasa , mora ?
(RISOS DOS DOIS . CÓLICA EM MIM ) . Ele devia ter uns dez anos a mais que eu , cabelos compridos , negros , óculos escuros , o tempo todo um sorriso torto , que não parecia defeito , mais um esgar irônico e bem humorado constante . Eu estava apaixonado pelos dois . Existem armadilhas do Bem . Ou do Além do Bem .E logo o papo estava animado , fumamos , rimos , ele desenhou minha cara com giz vermelho e azul em uma folha sulfite . Fiquei incrivelmente bonito e real , esquisito isso . Por fim :
- Porra , Marco , você é vida pura , Marina teu cara é demais . Quantos anos você tem , cara ?
- 42 . sou de janeiro .
- Eu também . 22 de janeiro . 1970 .
- Sério ? – Marina arregalando os olhos de fruta doce .
E caíram na gargalhada . Acendi mais um pra esperar passar . Tudo era natural , inclusive o Tempo certo pras coisas .
Ela :
- É que...ai ,ai...o Marco também é de 22 de janeiro . Olha eu aqui com esses dois aquarianos malucos ! Tá explicado !
E caímos na gargalhada .
Beijos .
Paulo.
Icq: 173033938 (UIN)





Vou abrir a exposição de um cara chamado Marco Pegolli , os curadores me chamaram para o coquetel na terça que vem . Eu não conhecia absolutamente nada do sujeito e pedi pra ir visitar o estúdio , bater um papo com o cara , saber qualé . Liguei , a namorada atendeu , voz gostosa , melosa , sem ser rapínica disfarçada , imaginei blusinha colada , shortinho amarelo , lambuzado das tintas do Marco . Marquei pra hora do almoço , hoje uma estrevista , pra poder escrever uma matéria sobre o trabalho dele para o jornal e me preparar para a noite daqui 1 semana . Pensei em levar um dos meus quadros , mas achei puta prepotência , tive certeza que era puta prepotência , em se tratando de mim . Só levei um vinho e camisinhas , na fantasia de que o cara não estivesse em casa ( não ouvi a voz do artista no telefone , ao longe e tenho um ouvido de tuberculoso pra sacanagem ) , ou de que ele fosse um ARTISTA MODERNO ( um sacana putão , tipo que conheço bem na frente do espelho , nos dias que resolvo fazer a barba ) e encarasse uma brincadeira francesa .
Lugar bacana , atrás do muro branco , através do portão , não dava pra ver porra alguma , era só árvores centenárias , suas raízes gigantescas e um caminho sutil de terra batida , que se aprofundava no escuro . A menina veio atender . Oi meloso bacana . Moleton , camiseta branca , sem sutiã , tênis bamba-like . Tudo de bom . Eu com o vinho debaixo do suvaco suado . “Oi ...o Marco taí ?” . “Claro , você não queria conversar com ele ? Vem , entra” ( imediatamente as camisinhas secaram dentro do bolso , viraram condons múmia , vergonha , humilhação , adolescente , zé mané , você não está mais nos seus melhores anos , a loucura já passou , o trem virou metrô e te empurraram pra fora , idiota , fica na sua , vê o cara , entrevista o cara , e peça perdão pra Nossa Sra. Aparecida ) . Entrei , caminho de terra vermelha . E ela foi explicando , embaixo era a casa , em cima era o estúdio. “E aqui , Paulo , é a famosa escada.”. Grande merda . Uma escada que ligava em um lance , a casa com o estúdio . Artistas malucos e de merda . Eu precisava da merda daquele vinho . “Você tem saca rolhas lá em cima ? Ou uma espada ?” Riu . Que Maldade de Risada ! Ai . “Vai subindo , vou pegar os copos (??) , o Marco tá te esperando.” .Subi como se fosse pra receber o Oscar , o Grammy , o Politzer , o Nobel , afinal , eu estava na FAMOSA ESCADA . Toquei um piano porrada nos dedos sobre o vidro do estúdio . “Entra , Paulo !” . O Marco tinha uma voz estranha . estranha pra caralho . Me senti numa armadilha , como se houvesse algo maior que eu ( sem dúvida ) rolando em tudo aquilo . Eu ia sair correndo , pular portão , raízes , abrir a garrafa com uma pancada na sarjeta e nevermind . Mas , ele repetiu o convite . Que troncho de cara fudidão eu era ? Vai em frente , Paulão . Fui , capeta . Eram dois ambientes , o primeiro lotado de quadros , o segundo guardava a voz estranha . Parei nos quadros . Uma espécie de cofre levitando no céu . Um pedaço de queijo esmagado em um buraco de rato . Um cigarro amassado na palma perfeita , renascentista , de uma mão . Parece bosta , mas não , a escolha das cores , os tons , os relevos . Arte pura . Na cara . “cê taí , Paulo ?” . Tô , Marco . Morrendo diante de quadros sublimes . “Cadê a Marina ?” . “Eu trouxe um vinho , ela foi buscar os cálices” “Ah...os copossss” . Era isso , ele prolongava o final das palavras e parecia terminar em algo salivento . Vamos ao segundo ambiente , Paulão .
E daí , cercado por uma caixote de vidro imenso , esse quarto , com todas cortinas abertas , lá estava Marco . Sentado em uma poltrona confortável , cercado por almofadões . Segurando com a mão torta , retorcida , uma bengala . Aliás , todo o lado direito do seu corpo era torto & retorcido , uma gota da baba na boca . “E aí , Paulo ? Gostou dos quadros ? Eles que vão pra exposiçãooooo” . “Gostei , pra caralho , Marco” . E demorei pra tomar coragem e sentar , foi a mão de Marina , quente , que chegou no meu ombro , fazendo uma leve pressão pra baixo . Estalei os joelhos ocos e sentei no almofadão com Shiva desenhado . Silêncio , a não ser pelo barulho da rolha em Marina ( “rolha em Marina”??...ai , Nossa Senhora ! Rogai por nós tarados pecadores , o cara é um paralítico fudido !!) . Vinho quase fervendo nos copos de requeijão . Matei o primeiro copo de golada , fiquei ainda com mais sede e estendi o braço pra me servir de mais . Então ele começou : - Foi um derrame , 1999 , eu era promotor de eventos pra Coca – Cola , um dia , trabalhando , senti uma fisgada na cabeça e apaguei . Apagado por 3 meses . Fisioterapia , terapia ocupacional , fono . dispensei a psicóloga , fora minha mãe , são todas uma vacas incompetentes . Dispensei também a cadeira de rodas . No início eu me esfregava pelo chão , como um berne envenenado . Eu tentava falar , mas a voz , ou o único som que eu conseguia produzir , saia pelo cú . A Marina era minha terapeuta ocupacional . Foi ela que me fez andar , no dia que eu vi o bico do peito dela , um ...favor...pro doente , foi assim que ela me disse , pra sacanear com minha auto piedade . Andei . Foi com ela que eu fiz a festa , no dia em que subi essa escada . É dela a mão no quadro . E eu sou o cigarro . Ela não se queimou comigo . Ela que fez meu pau subir , torto , mas subir . Ela que me ajudou a assinar o primeiro quadro da minha vida , enquanto eu chorava e tinha náuseas de felicidade . E não parei mais . Se sou um cigarro , que a vida me trague até o filtro . É brasa , mora ?
(RISOS DOS DOIS . CÓLICA EM MIM ) . Ele devia ter uns dez anos a mais que eu , cabelos compridos , negros , óculos escuros , o tempo todo um sorriso torto , que não parecia defeito , mais um esgar irônico e bem humorado constante . Eu estava apaixonado pelos dois . Existem armadilhas do Bem . Ou do Além do Bem .E logo o papo estava animado , fumamos , rimos , ele desenhou minha cara com giz vermelho e azul em uma folha sulfite . Fiquei incrivelmente bonito e real , esquisito isso . Por fim :
- Porra , Marco , você é vida pura , Marina teu cara é demais . Quantos anos você tem , cara ?
- 42 . sou de janeiro .
- Eu também . 22 de janeiro . 1970 .
- Sério ? – Marina arregalando os olhos de fruta doce .
E caíram na gargalhada . Acendi mais um pra esperar passar . Tudo era natural , inclusive o Tempo certo pras coisas .
Ela :
- É que...ai ,ai...o Marco também é de 22 de janeiro . Olha eu aqui com esses dois aquarianos malucos ! Tá explicado !
E caímos na gargalhada .
Beijos .
Paulo.
Icq: 173033938 (UIN)





Vou abrir a exposição de um cara chamado Marco Pegolli , os curadores me chamaram para o coquetel na terça que vem . Eu não conhecia absolutamente nada do sujeito e pedi pra ir visitar o estúdio , bater um papo com o cara , saber qualé . Liguei , a namorada atendeu , voz gostosa , melosa , sem ser rapínica disfarçada , imaginei blusinha colada , shortinho amarelo , lambuzado das tintas do Marco . Marquei pra hora do almoço , hoje uma estrevista , pra poder escrever uma matéria sobre o trabalho dele para o jornal e me preparar para a noite daqui 1 semana . Pensei em levar um dos meus quadros , mas achei puta prepotência , tive certeza que era puta prepotência , em se tratando de mim . Só levei um vinho e camisinhas , na fantasia de que o cara não estivesse em casa ( não ouvi a voz do artista no telefone , ao longe e tenho um ouvido de tuberculoso pra sacanagem ) , ou de que ele fosse um ARTISTA MODERNO ( um sacana putão , tipo que conheço bem na frente do espelho , nos dias que resolvo fazer a barba ) e encarasse uma brincadeira francesa .
Lugar bacana , atrás do muro branco , através do portão , não dava pra ver porra alguma , era só árvores centenárias , suas raízes gigantescas e um caminho sutil de terra batida , que se aprofundava no escuro . A menina veio atender . Oi meloso bacana . Moleton , camiseta branca , sem sutiã , tênis bamba-like . Tudo de bom . Eu com o vinho debaixo do suvaco suado . “Oi ...o Marco taí ?” . “Claro , você não queria conversar com ele ? Vem , entra” ( imediatamente as camisinhas secaram dentro do bolso , viraram condons múmia , vergonha , humilhação , adolescente , zé mané , você não está mais nos seus melhores anos , a loucura já passou , o trem virou metrô e te empurraram pra fora , idiota , fica na sua , vê o cara , entrevista o cara , e peça perdão pra Nossa Sra. Aparecida ) . Entrei , caminho de terra vermelha . E ela foi explicando , embaixo era a casa , em cima era o estúdio. “E aqui , Paulo , é a famosa escada.”. Grande merda . Uma escada que ligava em um lance , a casa com o estúdio . Artistas malucos e de merda . Eu precisava da merda daquele vinho . “Você tem saca rolhas lá em cima ? Ou uma espada ?” Riu . Que Maldade de Risada ! Ai . “Vai subindo , vou pegar os copos (??) , o Marco tá te esperando.” .Subi como se fosse pra receber o Oscar , o Grammy , o Politzer , o Nobel , afinal , eu estava na FAMOSA ESCADA . Toquei um piano porrada nos dedos sobre o vidro do estúdio . “Entra , Paulo !” . O Marco tinha uma voz estranha . estranha pra caralho . Me senti numa armadilha , como se houvesse algo maior que eu ( sem dúvida ) rolando em tudo aquilo . Eu ia sair correndo , pular portão , raízes , abrir a garrafa com uma pancada na sarjeta e nevermind . Mas , ele repetiu o convite . Que troncho de cara fudidão eu era ? Vai em frente , Paulão . Fui , capeta . Eram dois ambientes , o primeiro lotado de quadros , o segundo guardava a voz estranha . Parei nos quadros . Uma espécie de cofre levitando no céu . Um pedaço de queijo esmagado em um buraco de rato . Um cigarro amassado na palma perfeita , renascentista , de uma mão . Parece bosta , mas não , a escolha das cores , os tons , os relevos . Arte pura . Na cara . “cê taí , Paulo ?” . Tô , Marco . Morrendo diante de quadros sublimes . “Cadê a Marina ?” . “Eu trouxe um vinho , ela foi buscar os cálices” “Ah...os copossss” . Era isso , ele prolongava o final das palavras e parecia terminar em algo salivento . Vamos ao segundo ambiente , Paulão .
E daí , cercado por uma caixote de vidro imenso , esse quarto , com todas cortinas abertas , lá estava Marco . Sentado em uma poltrona confortável , cercado por almofadões . Segurando com a mão torta , retorcida , uma bengala . Aliás , todo o lado direito do seu corpo era torto & retorcido , uma gota da baba na boca . “E aí , Paulo ? Gostou dos quadros ? Eles que vão pra exposiçãooooo” . “Gostei , pra caralho , Marco” . E demorei pra tomar coragem e sentar , foi a mão de Marina , quente , que chegou no meu ombro , fazendo uma leve pressão pra baixo . Estalei os joelhos ocos e sentei no almofadão com Shiva desenhado . Silêncio , a não ser pelo barulho da rolha em Marina ( “rolha em Marina”??...ai , Nossa Senhora ! Rogai por nós tarados pecadores , o cara é um paralítico fudido !!) . Vinho quase fervendo nos copos de requeijão . Matei o primeiro copo de golada , fiquei ainda com mais sede e estendi o braço pra me servir de mais . Então ele começou : - Foi um derrame , 1999 , eu era promotor de eventos pra Coca – Cola , um dia , trabalhando , senti uma fisgada na cabeça e apaguei . Apagado por 3 meses . Fisioterapia , terapia ocupacional , fono . dispensei a psicóloga , fora minha mãe , são todas uma vacas incompetentes . Dispensei também a cadeira de rodas . No início eu me esfregava pelo chão , como um berne envenenado . Eu tentava falar , mas a voz , ou o único som que eu conseguia produzir , saia pelo cú . A Marina era minha terapeuta ocupacional . Foi ela que me fez andar , no dia que eu vi o bico do peito dela , um ...favor...pro doente , foi assim que ela me disse , pra sacanear com minha auto piedade . Andei . Foi com ela que eu fiz a festa , no dia em que subi essa escada . É dela a mão no quadro . E eu sou o cigarro . Ela não se queimou comigo . Ela que fez meu pau subir , torto , mas subir . Ela que me ajudou a assinar o primeiro quadro da minha vida , enquanto eu chorava e tinha náuseas de felicidade . E não parei mais . Se sou um cigarro , que a vida me trague até o filtro . É brasa , mora ?
(RISOS DOS DOIS . CÓLICA EM MIM ) . Ele devia ter uns dez anos a mais que eu , cabelos compridos , negros , óculos escuros , o tempo todo um sorriso torto , que não parecia defeito , mais um esgar irônico e bem humorado constante . Eu estava apaixonado pelos dois . Existem armadilhas do Bem . Ou do Além do Bem .E logo o papo estava animado , fumamos , rimos , ele desenhou minha cara com giz vermelho e azul em uma folha sulfite . Fiquei incrivelmente bonito e real , esquisito isso . Por fim :
- Porra , Marco , você é vida pura , Marina teu cara é demais . Quantos anos você tem , cara ?
- 42 . sou de janeiro .
- Eu também . 22 de janeiro . 1970 .
- Sério ? – Marina arregalando os olhos de fruta doce .
E caíram na gargalhada . Acendi mais um pra esperar passar . Tudo era natural , inclusive o Tempo certo pras coisas .
Ela :
- É que...ai ,ai...o Marco também é de 22 de janeiro . Olha eu aqui com esses dois aquarianos malucos ! Tá explicado !
E caímos na gargalhada .
Beijos .
Paulo.
Icq: 173033938 (UIN)





Vou abrir a exposição de um cara chamado Marco Pegolli , os curadores me chamaram para o coquetel na terça que vem . Eu não conhecia absolutamente nada do sujeito e pedi pra ir visitar o estúdio , bater um papo com o cara , saber qualé . Liguei , a namorada atendeu , voz gostosa , melosa , sem ser rapínica disfarçada , imaginei blusinha colada , shortinho amarelo , lambuzado das tintas do Marco . Marquei pra hora do almoço , hoje uma estrevista , pra poder escrever uma matéria sobre o trabalho dele para o jornal e me preparar para a noite daqui 1 semana . Pensei em levar um dos meus quadros , mas achei puta prepotência , tive certeza que era puta prepotência , em se tratando de mim . Só levei um vinho e camisinhas , na fantasia de que o cara não estivesse em casa ( não ouvi a voz do artista no telefone , ao longe e tenho um ouvido de tuberculoso pra sacanagem ) , ou de que ele fosse um ARTISTA MODERNO ( um sacana putão , tipo que conheço bem na frente do espelho , nos dias que resolvo fazer a barba ) e encarasse uma brincadeira francesa .
Lugar bacana , atrás do muro branco , através do portão , não dava pra ver porra alguma , era só árvores centenárias , suas raízes gigantescas e um caminho sutil de terra batida , que se aprofundava no escuro . A menina veio atender . Oi meloso bacana . Moleton , camiseta branca , sem sutiã , tênis bamba-like . Tudo de bom . Eu com o vinho debaixo do suvaco suado . “Oi ...o Marco taí ?” . “Claro , você não queria conversar com ele ? Vem , entra” ( imediatamente as camisinhas secaram dentro do bolso , viraram condons múmia , vergonha , humilhação , adolescente , zé mané , você não está mais nos seus melhores anos , a loucura já passou , o trem virou metrô e te empurraram pra fora , idiota , fica na sua , vê o cara , entrevista o cara , e peça perdão pra Nossa Sra. Aparecida ) . Entrei , caminho de terra vermelha . E ela foi explicando , embaixo era a casa , em cima era o estúdio. “E aqui , Paulo , é a famosa escada.”. Grande merda . Uma escada que ligava em um lance , a casa com o estúdio . Artistas malucos e de merda . Eu precisava da merda daquele vinho . “Você tem saca rolhas lá em cima ? Ou uma espada ?” Riu . Que Maldade de Risada ! Ai . “Vai subindo , vou pegar os copos (??) , o Marco tá te esperando.” .Subi como se fosse pra receber o Oscar , o Grammy , o Politzer , o Nobel , afinal , eu estava na FAMOSA ESCADA . Toquei um piano porrada nos dedos sobre o vidro do estúdio . “Entra , Paulo !” . O Marco tinha uma voz estranha . estranha pra caralho . Me senti numa armadilha , como se houvesse algo maior que eu ( sem dúvida ) rolando em tudo aquilo . Eu ia sair correndo , pular portão , raízes , abrir a garrafa com uma pancada na sarjeta e nevermind . Mas , ele repetiu o convite . Que troncho de cara fudidão eu era ? Vai em frente , Paulão . Fui , capeta . Eram dois ambientes , o primeiro lotado de quadros , o segundo guardava a voz estranha . Parei nos quadros . Uma espécie de cofre levitando no céu . Um pedaço de queijo esmagado em um buraco de rato . Um cigarro amassado na palma perfeita , renascentista , de uma mão . Parece bosta , mas não , a escolha das cores , os tons , os relevos . Arte pura . Na cara . “cê taí , Paulo ?” . Tô , Marco . Morrendo diante de quadros sublimes . “Cadê a Marina ?” . “Eu trouxe um vinho , ela foi buscar os cálices” “Ah...os copossss” . Era isso , ele prolongava o final das palavras e parecia terminar em algo salivento . Vamos ao segundo ambiente , Paulão .
E daí , cercado por uma caixote de vidro imenso , esse quarto , com todas cortinas abertas , lá estava Marco . Sentado em uma poltrona confortável , cercado por almofadões . Segurando com a mão torta , retorcida , uma bengala . Aliás , todo o lado direito do seu corpo era torto & retorcido , uma gota da baba na boca . “E aí , Paulo ? Gostou dos quadros ? Eles que vão pra exposiçãooooo” . “Gostei , pra caralho , Marco” . E demorei pra tomar coragem e sentar , foi a mão de Marina , quente , que chegou no meu ombro , fazendo uma leve pressão pra baixo . Estalei os joelhos ocos e sentei no almofadão com Shiva desenhado . Silêncio , a não ser pelo barulho da rolha em Marina ( “rolha em Marina”??...ai , Nossa Senhora ! Rogai por nós tarados pecadores , o cara é um paralítico fudido !!) . Vinho quase fervendo nos copos de requeijão . Matei o primeiro copo de golada , fiquei ainda com mais sede e estendi o braço pra me servir de mais . Então ele começou : - Foi um derrame , 1999 , eu era promotor de eventos pra Coca – Cola , um dia , trabalhando , senti uma fisgada na cabeça e apaguei . Apagado por 3 meses . Fisioterapia , terapia ocupacional , fono . dispensei a psicóloga , fora minha mãe , são todas uma vacas incompetentes . Dispensei também a cadeira de rodas . No início eu me esfregava pelo chão , como um berne envenenado . Eu tentava falar , mas a voz , ou o único som que eu conseguia produzir , saia pelo cú . A Marina era minha terapeuta ocupacional . Foi ela que me fez andar , no dia que eu vi o bico do peito dela , um ...favor...pro doente , foi assim que ela me disse , pra sacanear com minha auto piedade . Andei . Foi com ela que eu fiz a festa , no dia em que subi essa escada . É dela a mão no quadro . E eu sou o cigarro . Ela não se queimou comigo . Ela que fez meu pau subir , torto , mas subir . Ela que me ajudou a assinar o primeiro quadro da minha vida , enquanto eu chorava e tinha náuseas de felicidade . E não parei mais . Se sou um cigarro , que a vida me trague até o filtro . É brasa , mora ?
(RISOS DOS DOIS . CÓLICA EM MIM ) . Ele devia ter uns dez anos a mais que eu , cabelos compridos , negros , óculos escuros , o tempo todo um sorriso torto , que não parecia defeito , mais um esgar irônico e bem humorado constante . Eu estava apaixonado pelos dois . Existem armadilhas do Bem . Ou do Além do Bem .E logo o papo estava animado , fumamos , rimos , ele desenhou minha cara com giz vermelho e azul em uma folha sulfite . Fiquei incrivelmente bonito e real , esquisito isso . Por fim :
- Porra , Marco , você é vida pura , Marina teu cara é demais . Quantos anos você tem , cara ?
- 42 . sou de janeiro .
- Eu também . 22 de janeiro . 1970 .
- Sério ? – Marina arregalando os olhos de fruta doce .
E caíram na gargalhada . Acendi mais um pra esperar passar . Tudo era natural , inclusive o Tempo certo pras coisas .
Ela :
- É que...ai ,ai...o Marco também é de 22 de janeiro . Olha eu aqui com esses dois aquarianos malucos ! Tá explicado !
E caímos na gargalhada .
Beijos .
Paulo.
Icq: 173033938 (UIN)




Vou abrir a exposição de um cara chamado Marco Pegolli , os curadores me chamaram para o coquetel na terça que vem . Eu não conhecia absolutamente nada do sujeito e pedi pra ir visitar o estúdio , bater um papo com o cara , saber qualé . Liguei , a namorada atendeu , voz gostosa , melosa , sem ser rapínica disfarçada , imaginei blusinha colada , shortinho amarelo , lambuzado das tintas do Marco . Marquei pra hora do almoço , hoje uma estrevista , pra poder escrever uma matéria sobre o trabalho dele para o jornal e me preparar para a noite daqui 1 semana . Pensei em levar um dos meus quadros , mas achei puta prepotência , tive certeza que era puta prepotência , em se tratando de mim . Só levei um vinho e camisinhas , na fantasia de que o cara não estivesse em casa ( não ouvi a voz do artista no telefone , ao longe e tenho um ouvido de tuberculoso pra sacanagem ) , ou de que ele fosse um ARTISTA MODERNO ( um sacana putão , tipo que conheço bem na frente do espelho , nos dias que resolvo fazer a barba ) e encarasse uma brincadeira francesa .
Lugar bacana , atrás do muro branco , através do portão , não dava pra ver porra alguma , era só árvores centenárias , suas raízes gigantescas e um caminho sutil de terra batida , que se aprofundava no escuro . A menina veio atender . Oi meloso bacana . Moleton , camiseta branca , sem sutiã , tênis bamba-like . Tudo de bom . Eu com o vinho debaixo do suvaco suado . “Oi ...o Marco taí ?” . “Claro , você não queria conversar com ele ? Vem , entra” ( imediatamente as camisinhas secaram dentro do bolso , viraram condons múmia , vergonha , humilhação , adolescente , zé mané , você não está mais nos seus melhores anos , a loucura já passou , o trem virou metrô e te empurraram pra fora , idiota , fica na sua , vê o cara , entrevista o cara , e peça perdão pra Nossa Sra. Aparecida ) . Entrei , caminho de terra vermelha . E ela foi explicando , embaixo era a casa , em cima era o estúdio. “E aqui , Paulo , é a famosa escada.”. Grande merda . Uma escada que ligava em um lance , a casa com o estúdio . Artistas malucos e de merda . Eu precisava da merda daquele vinho . “Você tem saca rolhas lá em cima ? Ou uma espada ?” Riu . Que Maldade de Risada ! Ai . “Vai subindo , vou pegar os copos (??) , o Marco tá te esperando.” .Subi como se fosse pra receber o Oscar , o Grammy , o Politzer , o Nobel , afinal , eu estava na FAMOSA ESCADA . Toquei um piano porrada nos dedos sobre o vidro do estúdio . “Entra , Paulo !” . O Marco tinha uma voz estranha . estranha pra caralho . Me senti numa armadilha , como se houvesse algo maior que eu ( sem dúvida ) rolando em tudo aquilo . Eu ia sair correndo , pular portão , raízes , abrir a garrafa com uma pancada na sarjeta e nevermind . Mas , ele repetiu o convite . Que troncho de cara fudidão eu era ? Vai em frente , Paulão . Fui , capeta . Eram dois ambientes , o primeiro lotado de quadros , o segundo guardava a voz estranha . Parei nos quadros . Uma espécie de cofre levitando no céu . Um pedaço de queijo esmagado em um buraco de rato . Um cigarro amassado na palma perfeita , renascentista , de uma mão . Parece bosta , mas não , a escolha das cores , os tons , os relevos . Arte pura . Na cara . “cê taí , Paulo ?” . Tô , Marco . Morrendo diante de quadros sublimes . “Cadê a Marina ?” . “Eu trouxe um vinho , ela foi buscar os cálices” “Ah...os copossss” . Era isso , ele prolongava o final das palavras e parecia terminar em algo salivento . Vamos ao segundo ambiente , Paulão .
E daí , cercado por uma caixote de vidro imenso , esse quarto , com todas cortinas abertas , lá estava Marco . Sentado em uma poltrona confortável , cercado por almofadões . Segurando com a mão torta , retorcida , uma bengala . Aliás , todo o lado direito do seu corpo era torto & retorcido , uma gota da baba na boca . “E aí , Paulo ? Gostou dos quadros ? Eles que vão pra exposiçãooooo” . “Gostei , pra caralho , Marco” . E demorei pra tomar coragem e sentar , foi a mão de Marina , quente , que chegou no meu ombro , fazendo uma leve pressão pra baixo . Estalei os joelhos ocos e sentei no almofadão com Shiva desenhado . Silêncio , a não ser pelo barulho da rolha em Marina ( “rolha em Marina”??...ai , Nossa Senhora ! Rogai por nós tarados pecadores , o cara é um paralítico fudido !!) . Vinho quase fervendo nos copos de requeijão . Matei o primeiro copo de golada , fiquei ainda com mais sede e estendi o braço pra me servir de mais . Então ele começou : - Foi um derrame , 1999 , eu era promotor de eventos pra Coca – Cola , um dia , trabalhando , senti uma fisgada na cabeça e apaguei . Apagado por 3 meses . Fisioterapia , terapia ocupacional , fono . dispensei a psicóloga , fora minha mãe , são todas uma vacas incompetentes . Dispensei também a cadeira de rodas . No início eu me esfregava pelo chão , como um berne envenenado . Eu tentava falar , mas a voz , ou o único som que eu conseguia produzir , saia pelo cú . A Marina era minha terapeuta ocupacional . Foi ela que me fez andar , no dia que eu vi o bico do peito dela , um ...favor...pro doente , foi assim que ela me disse , pra sacanear com minha auto piedade . Andei . Foi com ela que eu fiz a festa , no dia em que subi essa escada . É dela a mão no quadro . E eu sou o cigarro . Ela não se queimou comigo . Ela que fez meu pau subir , torto , mas subir . Ela que me ajudou a assinar o primeiro quadro da minha vida , enquanto eu chorava e tinha náuseas de felicidade . E não parei mais . Se sou um cigarro , que a vida me trague até o filtro . É brasa , mora ?
(RISOS DOS DOIS . CÓLICA EM MIM ) . Ele devia ter uns dez anos a mais que eu , cabelos compridos , negros , óculos escuros , o tempo todo um sorriso torto , que não parecia defeito , mais um esgar irônico e bem humorado constante . Eu estava apaixonado pelos dois . Existem armadilhas do Bem . Ou do Além do Bem .E logo o papo estava animado , fumamos , rimos , ele desenhou minha cara com giz vermelho e azul em uma folha sulfite . Fiquei incrivelmente bonito e real , esquisito isso . Por fim :
- Porra , Marco , você é vida pura , Marina teu cara é demais . Quantos anos você tem , cara ?
- 42 . sou de janeiro .
- Eu também . 22 de janeiro . 1970 .
- Sério ? – Marina arregalando os olhos de fruta doce .
E caíram na gargalhada . Acendi mais um pra esperar passar . Tudo era natural , inclusive o Tempo certo pras coisas .
Ela :
- É que...ai ,ai...o Marco também é de 22 de janeiro . Olha eu aqui com esses dois aquarianos malucos ! Tá explicado !
E caímos na gargalhada .
Beijos .
Paulo.
Icq: 173033938 (UIN)