Páginas de Literatura Corporal

25.12.06

O Corpo do Cação é Água ? ( 2 revitações visuais em Chico Buarque e um afeto confesso...)

Para "Figura"...








é tão complicado aquilo que a gente conversou,
comendo camarão maravilhoso que eu provava quando
era moleque de cadências inocentes ( será possível ? Onde começa o torto, raiz, fruta que não interessa no centro do meu peito e coxas...?),
Mas o básico é isso,
o que
É e o que, efêmero, apenas está.
O problema é que tenho medo de que quando
Quero,
eu "seja" um "estar" aos olhos,
muralhas ou eu que não sei saltar nem um morrico ?
E quando não me interesso,
ao beijo e quem sabe
história leve e branda de deixar
devir,
é quando se interessam por mim,
quando nasce o sol, cegueira,
quando nasce a noite escura de lua mostrando as costas de couro,
vejo demais
o frio de uma ( ilusória? cruzamento de periferias com mendigos centrais em carne viva... )
de uma
não-factuidade.

De forma alguma isso é um poema,
nem mesmo
lamento,
essa não é a idéia,
( te falei, "não sei se sou escritor" ),

quem sabe,
nunca murro
em ponto de faca,
já disse, não lamentações
no muro das
lentidões.

Doídas.

Mas, sabe, não se avolteça,
só um pouco,
tá ?

°

9.12.06

LaMbEnDo no SaNsArA.



Estamos todos atolados no lixo até o céu da boca.
Treino comer o estrago e ter flores saindo pelo cu,
broto uma tensão entre as palavras, sem muita delicadeza,
ou sem um pingo de grosseria,
qual o problema de lamber Dalai-Lama ?
qual o problema de ficar exultante ouvindo sons de caos
e pular e chutar as poltronas e cadeiras de rodas ?
qual o problema de lamber o que há de bonito ?
Quero abraçar o Dalai-Lama e perguntar qual é a palavra
que ele mais usa quando está debaixo do chuveiro,
momento crítico e cômico,
até mesmo político, diriam alguns,
e quem sou eu pra questionar isso ?

Se o lixo está em todo o canto,
qual o problema, se tenho e treinei um estômago forte,
de eu comer isso tudo e conservantes, acidulantes e corantes de galerias de arte & exibicionismo,
pra que as pessoas estejam mais livres e mais felizes, amadas mamães de
úteros-cotidianos interliogados por falácias
e erros constantes ?

Eu alivio pra você a mais dia e menos dia a gente se encontra debaixo da chuva
e trocamos sorrisos sinceros,
não por nada não,
apenas por causa da pele úmida
e alguma saudável identificação,
até mesmo com a marca do cigarro,
e se o problema é fumar,
fumo lá fora, pensando que apesar de tudo,
não hei mais de matar baratas à torto e direito,
se você pensa antes, pensa com alguns "por quês",
você prefere ir deitar e ouvir música,
quando madeleine peyroux vai cantar de novo,
desse jeito, com essas exatas gotas fazendo percussão,
enfim, o que será de madeleine peyroux daqui 2000 anos ?
Onde ela estará, talvez um pescador, um vulcão eletrônico que funciona com fichas
de caminhoneiros levitantes,
me diga, Dalai-Lama, eu preciso,
qual o problema de lamber a capa do disco de madame peyroux ?
Uma amiga ficou toda constrangida em tocar meu guia espiritual,
o bondoso piscador Guede,
e eu disse:
- Ei, vá em frente, que noção estranha essa de sagrado !!!
E ela tocou e acabou que eles riram muito,
e meu Guia ESPIRITUAL gostaria, eu dissi pra ele,
de ser o Brad Pitt, ele sempre fala dele,
e qual o problema de lamber o Brad Pitt,
aliás, ele deve andar com cheiro da Angelina Jolie no bigode,
e o bigode vai ser feito, se acumular no tal do lixo,
se perder entre sapatos furados, pianos, telefones faltando teclas ( de tanto usar o vício ),
e algo muito íntimo e humano ( lembre-se, todos nós cagamos ),
entre Brad Pitt e madame Jolie terá se perdido,
e isso fica imenso e calmamente triste ( como em um dia-hoje de chuva ),
se você já assistiu Sete Anos No Tibet.

Qual o mal de você retomar antigos hábitos,
se você não pode mais ser antigo,
se não existe um "você", mas apenas a sorte
de um câncer escapado por segundo,
pela multiplicação celular ?
Alergia à ácaros, eles comem sua pele velha,
é de certa forma,
atenção alergologistas e homeopatas,
tive um insight,
é alergia,

à você
mesmo.

Assim,
qual o problema
de lamber a pele brisa em matéria,
de
Dalai-Lama ?

º

( Campinas, 09 de dezembro, 2006, chuva, tranqüilo-permanecer, recuerdos de camping em montanha e quentura...)

°

8.12.06

Banho de falta de estilo.

Pois é.
Você está andando rua acima, de noite, voltando do cinema, depois de ficar na poltona, indo pra frente e pra trás, tendando ler melhor as melhores partes do filme, e tentado não parecer muito ridículo com isso, pra pessoa sentada ao seu lado.
E depois, é o primeiro a sair da sala e o restaurante está cheio, você toma algo e sai fora.
É quando está andando e pisa firme no asfalto, vendo um vulto anônimo sob a luz dos postes até que bonitos em sua anemia.
E esse som, dá pra entender com algum esforço fora dos eixos cabíveis, só você é capaz de você e portanto, pisa de novo e de novo, numa sonoridade sem música.
É uma das coisas, penso agora e um pouco antes, que me deixa insensível para as artes em geral.
O que, objetivamente falando, torna uma música mais atraente que alguém de noite chutando o asfalto, sejamos honestos...
O que ?
Talvez o fato de que a música tem uma aura artificiosa, em que você imagina que o cara que está no palco ou no cd é melhor que você apenas por ter feito provas e praticado em algo que em nada tem a ver com "sensibilidade", mas muito mais que matemática.
E a mesma dificuldade eu tenho com relação à todas as outras artes. Difícil apaludir espetáculos. E todo mundo aplaude e eu fico com cara de merda.
Antes aplaudia.
Mas me fazia um mal danado. Pensei até que eu pudesse ser um psicopata, já que esses não têm sentimentos.
Quando assumi o "não-aplauso" nessa minha vida sem medida, como toda vida, as coisas ficaram mais fáceis e entendi o quanto amoroso é um cara geralmente antipático como eu.
Uma vez que fui simpático, recebi a acusação se assédio sexual por uma garota gorda de unhas pintadas de ramelas de nariz suburbano e triste. Recebi a notícia com a mesma indiferença com que leio um poema.
Mas com poema eu não compro comida cotidiana para minha pança e dos que dependem de mim nesse mundo bingo.
Sempre foi estranho quando alguém me dizia " Achei esse filme lindo!".
Como assim ?
Eu gostei do que assisti hoje, tem algo de lindo sim, mas apenas por que acho que o cara se parece comigo em algo, só esse tipo de merda de espelho, de vacuidade.
Ouço aqui uma versão blues pra La vIe em ROsE, acho legal, mas apenas porque penso em Paris e gosto de Paris, e gosto apenas por me imaginar lá tendo maiores satisfações sensualistas que no Brasil. Apenas isso. La Vie em RosEEEE não passa de uma esperançAAAA.
Não estou muito afins de forçar sentir nada.
Mesmo por isso, parei de escrever na internet. Subitamente aquela gente toda que vinha aqui, Orkut e outros lugares MSN-tipos, mostraram como são desimportantes pra minha vida numa boa.
Foi assim, olhei e perdi o barato.
Não é raiva, é só falta de apego.
Se você olha seu bairro, as ruas e garrafas jogadas, enquanto chuta o asfalto e só você o fará assim por todo cosmos e relógios, se você olha seu bairro, baby, com olhos de quem NUNCA VIU, a coisa fica mesmo fascinante e ao mesmo tempo desprezível, pois tudo foi vivido, e não foi vivido POR AQUELE LUGAR.
Com as pessoas é a mesma coisa. Onda vai e onde vem e todos morrerão afogados, belamente afogados, aí vejo beleza, e aí, no flutuar água e sal & pó, a arte não consegue chegar, se aproxima só um pouco e finge para a satisfação barzinho-museus- motéis temáticos dos melancólicos sensíveis, os verdadeiros mentirosos, pois forças demais a barra na verdade, essa ilusão de opinão rasteira.

Enfim.
Posso até ajudar e escrever,
só não prometo ser edificante.

É uma baita perda de tempo, moleque.

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