Páginas de Literatura Corporal

29.1.04

AuSênCiA

Ontem quando saí de casa para o treino
tive a cereteza , pelo jeito com que RECEBI
os tchaus
que eu iria morrer atropelado .
eu sabia exatamente a avenida ,a Brasil ,
e tudo fazia sentido , pois o único caminho era por lá
e naquele horário
sempre está CHEIA , rush e blush .
Parei na beirada dela
e tive um ataque de ausência
Era e não era consciente .
Desapareci .

Quando voltei alguma coisa estava diferente em mim
talvez a cor das meias ou a mochila ,
apesar de minha memória funcionar geralmente
toxicamente bem .
Atravessei , fui ,lutei , ganhei , voltei , jantei , trepei , dormi , bebi , fumei .
Penso que ainda há um eu lá esparramado entre sangue , tinta e comprimidos estimulantes da musculatura
Penso que ainda há um eu lá com a bolsa aberta mostrando aos curiosos trágicos meus batons , perucas e esmaltes , além da bucetinha de guardar moedas .

Voltei hoje ao lugar e novamente sumi de mim .
Corri de volta para casa , família , propriedade e arco-íris
e me vi comendo macarronada e contando piadas sujas
sendo beliscado por minha esposa sob a mesa .
Era e não era eu .
Se juntasse os dois ,
imediatamente a avenida Brasil entraria pela porta
da COPA
e eu seria esmagado por um SCANIA 16 rodas
eu + eu = morte .
eu - eu = sociabilidade
eu / eu = amor e carinho
eu x eu = explosão atômica à partir de um frasco de catchup .


e eu e todos menos todos vezes alguns dividido por você , sexo e diazepan na veia ?
sem idéia
sem noção .

queria acreditar : a LÁGRIMA é apenas a Expectoração da TOSSE do Olho .
minha íris seria cusparada das cores de um Basquiat.

não acredito .
talvez chorar para mim sempre tenha sido uma cena .
e a cena de um texto nunca decorado , sempre uma falha , um assassinato .

uma guilhotina massageia meu pescoço à beira da Avenida Brasil .






27.1.04

Me nascem dedos .

Eu tenho muitos dedos nas mãos .
Meu irmão é perfeito ,
dois dedos de um lado e três de outro .
Se vira bem .
E eu com esses todos .
Que ela lambe ,
que ela quer enfiar o anel ,
que ela se abre vaginosa
pede por dois , três ( digo que bastariam )
dentro de si , coçando a coça interna do sexo desejante .
Uma mão lava a outra ...
...e as duas se matam em uma briga emocionante sob a água ,
tudo para manter as mãos



( ESCHER)

educadas mãos , sem cheiro , animalzinho da deusa vem lamber
ambrosia da pureza.
Meu corpo me cansa de tanta saúde e bem estar ,
enquanto daqui eu sei ,
o quanto fiz doer pessoas boas , caridosas , sensatas , artistas ,
por negar a mão que desce o condom , ou prepúcio ,
já cansado , já cansado , me desculpe pular fora assim ,
mas tem muito prato pra lavar e isso é para as suas , não minhas ,
Mãos .
É impertinente a mulher que só goza quando faz o parceiro lhe chupar os dedos .
É desconcertante ver a terra e bosta sob as unhas dos pobres diabos ,
Que o socialismo maneta , aliado à Rosseau , santifica os peidos .
Não quero um busto
( Rosseau tem vários )
Mas minhas mãos enterradas para fora da terra
Formigas e mulheres mal amadas ,
dançando entre meus dedos rígidos , espinafrada árvore demente ,
esse foi a Minha Vida , afinal .
Foda-se .
A mão fode bem como boca , buceta , cu .
A mão impura é liberdade ,
é murro na cara
é tapa na histérica
é sangue vivo entre os dedos , secreções ,
é "cheguei ! "
na campainha , abre a porta que sou eu pra te fazer em mim .
Bato palmas , ô de casa ,
Para as sombras
das mãos em palmas , reza , esculacho metafísico.

Toca aqui uma pra mim e esquece do seu orgulho besta .
Quero te ludibriar e pedir muito mais depois ,
mesmo que me considere canalha ,plebe, vergonhoso , infame ,
é assim o show de toda vida .

Me dê sua mão e pare de frescura , garota !
Farei e a levarei aonde bem quiser .
é mesmo assim , duro e brilhante vermelho ,
não finja susto
e trabalhe .

Paulo .

23.1.04

" 31 "

Então .
Dia 22 fiz anos .
A garota preparou uma massa especial com queijos e vinhos .
Cave do Duque , Portugal .
Tive diarréia imediatamente .
Vai ser divertido na psicanálise .
o Meu terapeuta vai adorar interpretar isso .
Imosec & Buscopan .
Vela & Língua de sogra .
Sexo lúgubre cuspindo danças em chamas
para a lua .
Só não suba em minha barriga , menina .
O tio tá velho e isso é foda .
Sorria ! ( Sebastião Salgado) :



Não sou limpinho , não sou bonitinho .
Não me esforço para ser agradável
Meu suor é tóxico terra toma
Bruto .
Bruços.
Mas ainda assim , me dizem torto ou reto
ou de silêncios constrangidos :
- Cara , eu te amo .
Ok . Parabéns pra você nessa
Data Querida .
O problema por esse sentimento é todo seu , garota , rapaz .
E ainda assim , varando o cabaço da lua ,
Ouço palmas .
O ouvido é uma concha das águas anteriores .
31 anos de marés .
e útero bêbado .
Obrigado , vazio em carnes .
Escotilhas e lunetas no vaso sanitário .
Não sei interpretar meu barco em mapa astrais
Sou rato no ano do macaco
Sou áquario quando todos estão na seca .
E não consigo me importar com as reclamações sociais mais justas .
Minha garota é gata no labirinto do rato .
É peixe fresco , arisco , gozável .
E quem não pode ser dessa forma ?
Entre no meu jogo e vá deixando as coisas pelo caminho .
Quero vez a sua nudez e o beijo no elevador que só leva
os reis miseráveis .
Assopro a velhinha ( isso mesmo )
depois de cuspir no prato que comi .
E engulo e cago novamente .

Obrigado , obrigado .

Paulo.


18.1.04

ELA & O FODEDOR

Ela limpou a casa , ela fez de tudo que considerava "seu dever" e depois tomou um banho pra se sentir , como se diz , bem ,
Para se sentir "MULHER" .
Resto resquício dos programas femininos Clodovil Marília Gabriela da década de 80 .
Ela lê Cláudia e gosta das dicas para "apimentar o seu romance"
Ela topa um fetiche mas só se for DuLoren .
Coloca a roupa que acha excitante e espera o Fodedor .







O Fodedor está chapado .
O Fodedor sempre está chapado .
Ele prefere lençois sujos ao OMO Dupla Acão .
Ele tira fotos do próprio cacete
e obviamente chapado ,

Eu mesmo no i*Eu!
( O FODEDOR )

As trabalha no computador ,
vendendo essas obras de arte , acompanhadas de poemas VERDADEIROS
Para Milhares de BLOGS espalhados mundo afora .
O Fodedor não liga para a revista Cláudia
e sempre tem ataque de suor e Animalidade na frente da TV .
O Fodedor A vê .
Ela vê o Fodedor .
Incrivelmente
Eles se amam .
Ele a fode
Ela faz amor .
Ele esporra em sua boca .
Ela dá sua língua como prova de paixão etc .
Ele acende um cigarro .
Pega a garrafa de vinho sob a cama .
Ela vira de ladinho .
E adormece fazendo rum-rum .

beijos.
Paulo.

13.1.04

VACANCE OVER

Eu mesmo no i*Eu!


Um raio de luz consegue atravessar as lâminas da janela , iluminando como astros os pequenos cosmos de poeira , vem esse feixe luminoso e esquenta minha pálpebra fechada . Antes de abrir os olhos , ainda sob efeito desse sutil calor , sei que será sem volta , estarei desvendando o dia ansioso , fim de férias , dia primeiro de estar em pé correndo no mundo das gentes ativas .
Foi o que , um mês , quinze dias ? Menos ? Não importa , sei que acabou . E de todos esses dias corridos não é da estrada , praia , beijo na boca , não do espreguiçar suntuoso que me recordo , mas do primeiro dia que agora parece uma espécie de ontem mal aproveitado . Uma espécie de raiva sentida :
- Mais uma vez , como eu mal soube viver liberdade . Foi bom , mas eu tinha jurado que seria melhor . Dormi muito , não dei aquele salto , não corri até a linha do horizonte , não achei o ouro do tesouro que a cada ano prometo que mereço .
Agora volta a vida do planeta corrido , das ruas buzinadas , das reuniões que nunca começam porque nunca terminam .
Agora faço cronograma , grudo na geladeira , dos horários em que será lícito chupar uma bala besta , um carinho frouxo .
Mudo a cor na capa da agenda nova , sem conseguir alegria do truque ilusório : lá dentro , continuam os janeiros e os marços de sempre . Sempre . O eterno retorno do arrependimento.
Deliro - me falta força para fazer sumir e vir sóbria razão – que todos aqueles que vou encontrar no trabalho tiveram muito mais sabedoria e menos ócio no proveito do seu tempo livre , foram mais espertos , terão histórias da torre de Paris ou do peixe pescado lindo no rio Piracicaba , estarão saudáveis , mais fortes , corados , hidratados e recarregados . E visões mais poderosas que a do raio X conseguirão ler dentro de mim a frustração , duras penas , tantas penas , trancafiadas como eu posso .
Sei que vou contar piada como sei que sairá torta , sem graça , forçando a barra . Quem sabe todos também estejam sentindo assim . Mas com que diabos conseguem esconder tão bem ! Eu que ainda trago na pele os buracos de chuva no mar e as queimaduras de sol na montanha , eu que só consegui gastar mais e mais , sem achar um objeto qualquer que tenha adquirido , salvo a camiseta ridícula e justa : “Estive em Tal Lugar e lembrei de você.” . Eu que não sei simular e me dá vontade de sair correndo do escritório , procurando água e brisa para acalmar esse suor louco que carimba minha inadimplência para com o prazer .
Mas eu fico .




Não corri quando era chance , estão eu fico , fecho a cara e não arredo , espalho bom dias servidos em farpas . Fico , ah se fico ! Quero ver alguém me tirar daqui , que nada , eu amo trabalhar , até enobrecer a alma sei que faz , não vem que não tem , que não pode , que não vou . Só não insista , por favor .
O colarinho aperta a garganta . O relógio não anda . O telefone só toca . Disco um número e fico em silêncio , lembrando de quando o moço uniformizado me entregava as chaves :
- Hotel Atlântico , bom dia....alô ?....quem é ?...
Pequena e masoquista traquinagem , desligo , respiro fundo ,ar de volta para dentro , um trêmulo suspiro .
Todos parecem já tão engajados , eficazes , encaixados em suas funções energizadas , enquanto me escoro na parede , velha parede de todos os anos , segurando esse bloco de papel em branco , sulfite sem nódoa , que vou me negando em preencher .
Uma mão no meu ombro . Tão acolhedora quanto um prego martelado :
- Menino , coragem , coragem . Espero o memorando na minha mesa , você sabe do que se trata . Navegar é preciso , viver não é preciso !
Desespero . Solidão . Vozes sensatas no labirinto .
Não !
Ainda não .
Ainda estou na minha cama e apenas um feixe de sol aquece minha pálpebra . Só isso . De resto não cabe antecipar . Mania besta de sofrer , essa minha . Quando a luz acender será de verdade . Fim de férias . Pedaço de vida real , fragmento visível das minhas responsabilidades . Quando a luz acender...
Abro os olhos .

“Não faço idéia de em que cidade estou . Não importa . Não faço idéia de para que cidade vou.”
( Sam Shepard )






9.1.04

AMOUR ...

AH , o amor !

Ele é algo doce , poético , nem sei se saberei , com meu jeito rude ,
falar sobre ele com a espiritualidade devida ,
mas é nele que um beijo na boca leva ao sexo anal
é nele que a bêbada pensa , beijando 100 caras , no primeiro cara ,
é ele que une duas velhas lésbicas em um delírio literário comum
é ele que lota meu consultório e por isso
é bom
é ele que gera poemas , contos ,
e outras besteiras sonolentas
é nele que as histéricas cortam seus pulsos , só a pele claro ,
e me torram o saco no plantão ,
é disso que vive as saudades que são
a catatonia do sexo ágil e levanta poeira
nele os solitários buscam mensagens idiossincráticas
nos classificados de acompanhantes
e tentam tirar as boas moças
"da vida"
é ele que me levou para lugares
é ele que me fez partir
é ele que me fez andar pela rodoviária
sabendo que no fim tudo terminaria em jorro facial e romantismo elma chips .

assim é o amor
ela não me dá porque ama outro
eu como porque me ama
a outra eu não como pois tem os poros na cara muito dilatados ,
e livros , mitos , lendas são pateticamente untadas
para não se tocar no grelho na questão :
o amor como entende o corpo
o que por fim
existe .

Paulo.


8.1.04

Suicide Frog

Minha garota me fez dormir com beijos sem metrô
Minha garota me acordou com um chute no saco
Caí edenizado da cama
Ela estava puta , pulando com suas pernas anarquistas
Ela me acusava com a faca no nariz
-Você não pagou a conta de telefone ,
como vou poder falar com mamãe
e saber da vida dela
e de como era morar em uma colônia de alemães ignorantes ?
Minha garota não tem idéia do que venha a ser Deus ,
Mas por via das dúvidas ,
Não me deixa jogar nada no lixo
A geladeira atravancada de requeijões seculares
E mesmo assim , nunca comprou uma bíblia .
Minha garota aprendeu a chupar comigo
Todas as meninas da sua família colonial
Aprenderam desde cedo todas as formas mais terríveis e lunares
De fuder , mas nunca , em hipótese alguma deveriam chupar ,
Pois os Homens não prestam e nunca prestarão
Foi um trabalho árduo convence-la couro amarra do contrário correia chicote.
Minha garota me faz lembrar de outras garotas que já foram minhas também
Com suas libidos e censuras engraçadas e falsas na real
Apesar de não gostarem da minha literatura
sempre
tudo
termina
em
riso

Paulo