BATEU, LEVOU.
( Oracio Centaro)
- COMO ASSIM, ESTÁ ME ESPERANDO ??? Quem deixou você entrar na minha vida ? Você marcou assim hora na minha alma ? Eu sou um tipo que toma muito cuidado com essas coisas,senhorita...meu trabalho exige rigor e técnica e ética e...
- Cala a boca e me chupa.
- Eu estou gripado...
- Tussa dentro de mim.
- É nojento.
- E o que não é ? Olhe bem pelas ruas, olhe dentro dos livros, olhe nos olhos quero ver o que você faz.
- Fraca essa.
- Não estou disputando. Lembre-se de Rosseau, não existe o "bom selvagem" ? Pois bem, eu sou a má selvagem mulher.
- Tá tudo meio que girando. O que você quer de mim ? Sexo ? Não vou dar, eu...
- Não seja prepotente, Paulo.
- Qualé, puta ?
- Quero posar nua pra um de seus contos. Capriche nas cores.
( Palazzolo)
- Eu só escrevo em preto e branco. Mais preto, essencialmente.
- Que seja, o que você tem a dizer sobre mim ?
" Ela é amante de todos e todas que se sujeitam ao Desejo. Minha fúria é covardia perto dela. Só bebe vinho vagabundo. Só anda pelas piores ruas. Tem reis e vagabundos em seu rabo. Não faz distinção. E isso ocorre não por ela acreditar na Democracia. Na verdade, como toda leviana, tem algo de nobre. Mesmo que chupe moedas de dez centavos, passe a língua nas de vinte cinco. Que enfie um real metálico na buceta. É campaeã de bilhar em toda redondeza dos bares nas proximidades da rodoviária. Quando não acha onde dormir, vai pro meio da rua e começa gritar, até chegar a carrocinha de loucos, que a leva para algum hospício. No dia seguinte, recebe alta após engolir a porra extravasada do médico residente. Dizem as lendas noturnas, que ela largou uma boa família e resolveu ir adinte. Seus cabelos são armados por tanta coceira de piolhos. Parece coisa de salão caro. Como se ela tivesse vencido o Caos ao cálculo. Eu só a tinha como uma figura mágica da madrugada, nunca tinha visto. Foi quando ela me surgiu, chapéu na cabeça, meio desfocada, seios escapando. Pulgas pulavam no meu sofá. Não sei como expulsa-la daqui, uma vez que não quero, a noite é morna. Me pergunta se eu já matei alguém. Digo que já fiz belos estragos na cara de idiotas. Me conta que coleciona recortes de jornal sobre crimes passionais. Que isso a excita de verdade. Que o resto é bobagem. Coisa de gente fraca. Cães raivosos trancafiados em gravatas e elevadores cheirando Pinho Sol. Me pergunta se eu já publiquei algum livro. Digo de dois, sendo um encenado em palcos de Portugal. Ela garganha, pega no meu pau murcho sobre a calça, e diz que sou mesmo o danado de um arrogante. Também participei de antologias poéticas. Mas daí já é demais, ela está rolando sobre o meu carpete, cuspindo e tapetes persas.Prefiro nem mencionar que sou articulista de um grande jornal...ela poderia cagar aqui mesmo, sem dúvida. Levanta-se, me dá uma bitoca e some no fim da noite, já amanhecendo. Me sinto ridículo e passo três noites sem dormir. Na quarta, eu me embebedo e embarco, tentando esquece-la. Passo o resto da minha vida procurando artigos violentos e sexys nos jornais...."
(Palazzolo)
- Está de bom tamanho, doutor. Você acertou em vários pontos, para o seu azar.
- Foi o máximo que consegui fazer, garota.
- Quer a bitoca ?
- Não.
- Como não ?!?
- Você é uma vaca exibicionista. Pesa a barra só naquilo que te faça heroína. Na verdade, sua loucura não passa de uma histeria agravada pela vida urbana.
- Sou a sinceridade em pessoa !!
- Vai se fuder. Você é cansativa. Vou imprimir o seu conto. Toma, leva. E mando pra lixeira.
- E você, quem pensa que é ?
- Apenas um cara. Essa é nossa diferença.
- Entenda, você também é especial...quer um boquete ?
- Tenho minhas próprias formas de passatempo. Agora se manda, ou apanha.
- Bate !
( SOCO NO QUEIXO E CHUTE NO ÚTERO.)
- Viado !
- É isso aí. Pedala. Não vou cuspir no seu cadáver.
Ela vai com passos putos e bate a porta.
Eu estou com fome
e hoje vai ter lasanha em casa, confortável e quentinha.
beijos.
Paulo.